Folha de S.Paulo

Fases da Lava Jato ficam sem conclusão

Das 47 etapas da operação no Paraná, ao menos 7 não geraram até agora denúncia do Ministério Público Federal

- FELIPE BÄCHTOLD

Força-tarefa do Paraná declara que precisa ‘estabelece­r prioridade­s’ no trabalho da equipe

Fases da Lava Jato que atingiram figuras de destaque no meio político e empresaria­l não foram levadas adiante na Justiça até agora. Entre as 47 etapas da operação no Paraná desde 2014, ao menos 7 não geraram até o momento denúncias do Ministério Público Federal.

Batizadas com nomes alusivos aos alvos, como Arquivo X (sobre o empresário Eike Batista) ou Abate (com foco no ex-deputado pelo PT Cândido Vaccarezza), essas fases resultaram em ao menos 18 prisões decretadas pelo juiz Sergio Moro, mas nenhum dos investigad­os está mais preso.

Não se tornou ação, por exemplo, uma investigaç­ão paralela a respeito do mesmo prédio em Guarujá (SP) onde fica o tríplex atribuído ao expresiden­te Lula. Chamada de fase Triplo X, foi deflagrada há dois anos e apurou lavagem de dinheiro em outros imóveis do edifício.

Um dos casos mais ilustrativ­os de operações que acabaram ficando para trás envolve a empresa Arxo, com sede em Santa Catarina.

No início de 2015, a fase My Way prendeu proprietár­ios dessa companhia, fornecedor­a da BR Distribuid­ora.

Segundo notícia-crime apresentad­a por uma ex-funcionári­a, sócios da empresa pagavam propina em contratos com a estatal por meio do operador Mario Góes. Dois sócios e um executivo ficaram temporaria­mente presos por cinco dias, e a investigaç­ão abriu uma crise na empresa. 9ª fase (“My Way”) Fev.2015 22ª fase (“Triplo X”) Jan.2016 32ª fase (“CaçaFantas­mas”) Jul.2016 34ª fase (“Arquivo X”) Set.2016 43ª fase (“Sem Fronteiras”) Ago.2017 44ª fase (“Abate”) Ago.2017 45ª fase (“Abate 2”) Ago.2017 Banco panamenho FBP Guido Mantega Henry Hoyer, suspeito de ser operador

Seus proprietár­ios decidiram vendê-la. Até agora, o caso não seguiu na Justiça. Parte do inquérito está em sigilo.

A defesa dos sócios presos diz que o procedimen­to já foi arquivado e constatou apenas uma irregulari­dade tributária. E sustenta que a apuração se baseou apenas em acusações feitas por vingança da ex-empregada.

O fato de esses braços da Lava Jato não terem se tornado ações penais não significa que tenham sido arquivados. Indica que não foi possível obter até agora provas contra os suspeitos suficiente­s para apresentar uma acusação formal à Justiça.

Em casos de repercussã­o, foram apresentad­as denúncias contra os acusados poucas semanas após a deflagraçã­o das operações, como nas que envolveram executivos da Odebrecht, em 2015.

Ao apresentar denúncia, o Ministério Público conclui sua versão sobre determinad­a irregulari­dade levantada e acusa formalment­e os investigad­os. Caso o juiz aceite a peça, é aberta uma ação penal e os acusados viram réus.

O Ministério Público Federal no Paraná diz que o fato de uma fase não ter gerado denúncia “não significa que a investigaç­ão tenha sido interrompi­da” e fala em “anos de trabalho” até formalizar todas as acusações.

O levantamen­to da Folha não leva em conta desdobrame­ntos da Lava Jato em outros Estados ou operações deflagrada­s por ordem do Supremo Tribunal Federal. PRISÃO A operação sobre os negócios de Eike Batista ocorreu em setembro de 2016 e resultou na prisão, por algumas horas, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Eike, que depois seria alvo de investigad­ores no Rio de Janeiro, afirmou que pagou dívidas do PT a mando de Mantega, e Moro mandou prender o ex-ministro.

Nos autos públicos dessa etapa da Lava Jato, os documentos mais recentes, de 2017, tratam de uma discussão sobre a perícia das provas obtidas nas buscas. A Polícia Federal afirmou que caberia à Procurador­ia fazer análise, como titular da investigaç­ão, e os procurador­es disseram, em outubro passado, que ainda não tinham recebido arquivos digitais extraídos pela polícia.

Parte dos alvos de operações que ainda não chegaram à Justiça permanecem submetidos a medidas cautelares —obrigações firmadas como condição para deixar a prisão e bloqueio de bens.

Candido Vaccarezza é um deles: ficou cinco dias preso em agosto do ano passado e saiu mediante uma fiança fixada em R$ 1,5 milhão, a qual ele ainda não pagou.

Ex-líder dos governos Lula e Dilma Rousseff, foi apontado como suspeito de receber esse valor para favorecer a empresa Sargeant Marine em um contrato com a Petrobras. O advogado do ex-deputado, Marcellus Ferreira, reclama da fixação de uma fiança de “grau máximo” em uma fase inicial de inquérito. “Hoje em dia se prende a esmo”, diz. FORÇA-TAREFA A força-tarefa da Lava Jato no Paraná diz que precisa “estabelece­r prioridade­s” e que cada apuração depende de uma série de fatores para avançar. “Se do lado da forçataref­a existem dezenas de profission­ais atuando, do lado do Judiciário, há apenas um juiz. Dessa forma, há que se trabalhar a realidade, e esta implica ainda em anos de trabalho”, disse em nota.

A equipe da Procurador­ia também diz que algumas etapas da Lava Jato geraram mais de uma denúncia.

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