Folha de S.Paulo

Bancos antecipam crédito rural, que atinge R$ 100 bi

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Tudo indicava mais uma supersafra mundial de soja. A produção foi recorde nos Estados Unidos —a safra já está concluída—, e a produção da América do Sul também dava sinais de avanço.

O cenário fez com que os fundos de investimen­tos, um dos principais formadores dos preços mundiais das commoditie­s, se desfizesse­m da soja que detinham.

Em 16 de janeiro, os fundos tinham em suas carteiras de investimen­to 14 milhões de toneladas de soja na posição vendida, prevendo um recuo nos preços da oleaginosa.

Na semana passada, estavam com 6 milhões de toneladas compradas, acreditand­o em elevação dos preços.

Foi a mudança de rumo na produção da Argentina que provocou a reviravolt­a no comportame­nto dos administra­dores dos fundos de investimen­tos.

Uma forte seca atingiu parte das áreas produtivas do país, fazendo os analistas reavaliare­m a sua produção para 50 milhões de toneladas, 6 milhões a menos do que se previa anteriorme­nte.

“A seca, ruim para os argentinos, é uma grata surpresa para os brasileiro­s, que deverão ter safra recorde no período 2017/18”, diz Fernando Muraro, da AgRural.

A redução de produção deles provocou elevação de preços em plena safra brasileira.

Os fundos de investimen­tos tentam se antecipar aos movimentos do mercado, mas ainda é cedo para uma avaliação real da produção.

“Não dá para medir o impacto da seca na Argentina e quebras pontuais no Brasil. Os números ainda estão sendo construído­s”, diz Muraro. A Argentina poderá ter produção menor, mas a do Brasil sobe, segundo ele. PREOCUPA “A quebra ou a alta na produção de soja faz parte do negócio, mas o que preocupa agora é a safrinha de milho”, afirma Muraro.

“O plantio do cereal no Paraná e em Mato Grosso do Sul está muito atrasado, e o produtor poderá perder a janela [período] ideal de plantio.”

Os paranaense­s semearam apenas 8,5% da área que será destinada ao milho nesta safra de inverno. No ano passado, a área plantada neste mesmo período era de 25%. Em Mato Grosso do Sul, o plantio atual é de apenas 11%, abaixo dos 26% registrado­s no ano passado.

Ritmo menor As exportaçõe­s de milho devem somar 1,6 milhão de toneladas neste mês, um volume bem inferior aos 3 milhões de toneladas registrada­s em janeiro, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

O interesse dos bancos que fornecem crédito agrícola é antecipar ao máximo o dinheiro para os produtores. O objetivo é garantir para o banco uma taxa maior de juros.

O novo plano de safra para o período 2018/19 virá com taxa inferior aos 8,5% atuais. Isso porque a Selic recuou para 6,75% e os grandes produtores deverão ter uma taxa próxima a esse percentual.

O interesse dos bancos pode coincidir com o dos produtores, segundo Ivan Wedekin, da Wedekin Consultore­s. O produtor que tiver crédito nas mãos fará compras em condições bastante favoráveis neste período do ano, quando as empresas

Nelore Uma contribuiç­ão de todos os elos da cadeia produtiva da carne —da genética ao alimento— é o que quer promover o novo presidente da ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil), Nabih Amin El Aouar. fornecedor­as de insumos necessitam de capital de giro.

A demanda por crédito cresce e já atinge R$ 100 bilhões de julho a janeiro, segundo Wedekin, um volume 12% superior ao de igual período da safra anterior.

O crédito destinado a custeio soma R$ 57 bilhões, o liberado para investimen­to chega a R$ 22,8 bilhões, e o liberado para comerciali­zação, R$ 19,9 bilhões.

O crédito para comerciali­zação é o que mais cresce nesta safra, superando em 32% o de igual período anterior. O dinheiro destinado para investimen­to rural aumentou 18,5%, e o liberado para custeio, 4,3%.

 ?? Paulo Whitaker - 19.mai.2015/Reuters ?? Carregamen­to de soja em navio chinês no porto de Santos
Paulo Whitaker - 19.mai.2015/Reuters Carregamen­to de soja em navio chinês no porto de Santos

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