Boa sorte, general
SÃO IMPAGÁVEIS os custos sociais da violência e da criminalidade. Cerca de 60 mil pessoas assassinadas anualmente no país impõem perdas irreparáveis a suas famílias. Parentes de policiais mortos ou feridos enfrentam momentos de enorme sofrimento e dor.
Os custos econômicos são incalculáveis. Além dos gastos governamentais, pessoas e corporações são obrigadas a reservar parcelas substanciais de seus recursos para a segurança. Os bancos, por exemplo, têm dezenas de milhares de homens armados nas agências e no transporte de valores. Custam R$ 9 bilhões por ano.
Na indústria, no comércio e no setor de serviços, é impossível estimar valores, dada a pulverização de dispêndios em pequenas, médias e grandes empresas por todo o país.
Além de uma chaga social, portanto, a violência passou a ser um fator importante no custo Brasil.
Na sexta-feira (16), o presidente Michel Temer decretou intervenção dos Bombeiros e do sistema carcerário serão subordinados ao general Walter Braga Netto.
Os mais recentes episódios de violência no Rio, no Carnaval, chocaram o país —crianças baleadas, supermercado saqueado, tiroteios, arrastões, bloqueios de avenidas. Boa sorte em seu trabalho é o que todo brasileiro deve desejar ao general. Há, porém, quatro observações importantes a fazer.
A primeira é que a violência e a criminalidade no Rio não começaram agora. Elas vêm de longe, com facções e corrupção. Os índices de criminalidade também não estão no auge, apesar do enorme impacto de mídia. O número de mortes violentas no Rio caiu bastante desde o início do século, passando de 8.000, em 2000, para 4.500, em 2012. A partir de então, voltou a subir e atingiu 6.700 no ano passado.
A segunda é que o crime não constitui “privilégio” do Rio. Está espalhado pelo país, e isso exige ações correlatas em muitos Estados, uma
A terceira observação é que as ações não podem ser temporárias. As UPPs do Rio, por exemplo, tiveram um início de sucesso a partir de 2008, mas agora são quase ignoradas pela criminalidade. Em 2011, por exemplo, houve 13 confrontos em comunidades com UPPs. Em 2016, esse número já havia subido para 1.555.
A quarta é sobre a curva do gráfico das mortes violentas no Rio, que se move mais ou menos acompanhando, em sentido inverso, a linha da atividade econômica. Quando a economia sobe, os crimes diminuem e vice-versa.
Não há nada de científico nessa observação, mas certamente a recessão jogam jovens desocupados nos braços da criminalidade. O país precisa, com urgência, de crescimento econômico e criação de postos de trabalho. E isso não é tarefa para generais. BENJAMIN STEINBRUCH, bvictoria@psi.com.br