Folha de S.Paulo

Boa sorte, general

- BENJAMIN STEINBRUCH COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Rodrigo Zeidan; domingo:

SÃO IMPAGÁVEIS os custos sociais da violência e da criminalid­ade. Cerca de 60 mil pessoas assassinad­as anualmente no país impõem perdas irreparáve­is a suas famílias. Parentes de policiais mortos ou feridos enfrentam momentos de enorme sofrimento e dor.

Os custos econômicos são incalculáv­eis. Além dos gastos governamen­tais, pessoas e corporaçõe­s são obrigadas a reservar parcelas substancia­is de seus recursos para a segurança. Os bancos, por exemplo, têm dezenas de milhares de homens armados nas agências e no transporte de valores. Custam R$ 9 bilhões por ano.

Na indústria, no comércio e no setor de serviços, é impossível estimar valores, dada a pulverizaç­ão de dispêndios em pequenas, médias e grandes empresas por todo o país.

Além de uma chaga social, portanto, a violência passou a ser um fator importante no custo Brasil.

Na sexta-feira (16), o presidente Michel Temer decretou intervençã­o dos Bombeiros e do sistema carcerário serão subordinad­os ao general Walter Braga Netto.

Os mais recentes episódios de violência no Rio, no Carnaval, chocaram o país —crianças baleadas, supermerca­do saqueado, tiroteios, arrastões, bloqueios de avenidas. Boa sorte em seu trabalho é o que todo brasileiro deve desejar ao general. Há, porém, quatro observaçõe­s importante­s a fazer.

A primeira é que a violência e a criminalid­ade no Rio não começaram agora. Elas vêm de longe, com facções e corrupção. Os índices de criminalid­ade também não estão no auge, apesar do enorme impacto de mídia. O número de mortes violentas no Rio caiu bastante desde o início do século, passando de 8.000, em 2000, para 4.500, em 2012. A partir de então, voltou a subir e atingiu 6.700 no ano passado.

A segunda é que o crime não constitui “privilégio” do Rio. Está espalhado pelo país, e isso exige ações correlatas em muitos Estados, uma

A terceira observação é que as ações não podem ser temporária­s. As UPPs do Rio, por exemplo, tiveram um início de sucesso a partir de 2008, mas agora são quase ignoradas pela criminalid­ade. Em 2011, por exemplo, houve 13 confrontos em comunidade­s com UPPs. Em 2016, esse número já havia subido para 1.555.

A quarta é sobre a curva do gráfico das mortes violentas no Rio, que se move mais ou menos acompanhan­do, em sentido inverso, a linha da atividade econômica. Quando a economia sobe, os crimes diminuem e vice-versa.

Não há nada de científico nessa observação, mas certamente a recessão jogam jovens desocupado­s nos braços da criminalid­ade. O país precisa, com urgência, de cresciment­o econômico e criação de postos de trabalho. E isso não é tarefa para generais. BENJAMIN STEINBRUCH, bvictoria@psi.com.br

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