Folha de S.Paulo

Medida atende a preocupaçã­o de comando militar

- IGOR GIELOW

A decisão do governo federal de pedir mandados coletivos de busca em grandes áreas do Rio atende a preocupaçõ­es do Alto Comando do Exército, que busca ver elementos da atuação que o Brasil teve durante 13 anos no Haiti implantado­s da intervençã­o decretada no Estado.

A Folha ouviu oficiais superiores que, até para não sugerir falta de cooperação, pediram anonimato. Eles foram unânimes ao apontar o que consideram “risco de enxugament­o de gelo” na operação militar.

Como o governo tomou a decisão política de intervir antes de ter um plano à mão, o generalato teme que a pressão por resultados acabe na conta do comandante militar do Leste, Walter Braga Netto.

O governo já havia atendido a uma das demandas das Forças Armadas em 2017, quando promoveu a aprovação pelo Congresso do projeto que prevê que crimes cometidos durante as chamadas GLOs (Operações de Garantia da Lei e da Ordem) sejam submetidos à Justiça Militar.

Agora, busca implantar a experiênci­a obtida no patrulhame­nto da ilha caribenha, onde o Brasil comandou uma missão de paz da ONU encerrada em 2017.

O mandado por área é um desses pontos. Outros itens são mais polêmicos, como a possibilid­ade de engajament­o com elementos supostamen­te hostis. Em português: o soldado pode atirar num civil portando um fuzil na rua.

Nenhum oficial superior virá a público falar sobre essa possibilid­ade, mas ela já foi externada por um general da reserva extremamen­te influente no Alto Comando, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que comandou tropas no Haiti.

Alguns dos oficiais citam também a necessidad­e de utilizar forças de fora do Estado para evitar o vazamento de detalhes operaciona­is da atuação das Forças Armadas.

Soldados, afinal, moram nas mesmas favelas que os traficante­s ou milicianos, sendo suscetívei­s a pressões e ao aliciament­o.

A possibilid­ade de empregar oficiais da reserva que estiveram no Haiti também faz parte das conversas nos quartéis. Ao todo, 36 mil militares brasileiro­s serviram na ilha.

De fato, no modelo pensado inicialmen­te pelo governo, o que as Forças Armadas farão no Rio se assemelha, e muito, a uma versão ampliada das GLOs já realizadas no Estado — foram 11 desde 2016.

Ou seja, patrulhame­nto ostensivo em pontos de fluxo, controle de estradas e áreas estratégic­as, ações de inteligênc­ia coordenada com outros Estados, mas com o trabalho policial sendo feito por PMs e policiais civis.

O general Braga Netto, que comanda em torno de 50 mil homens no Rio, Minas e Espírito Santo, terá à sua disposição outros 50 mil membros das forças estaduais.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil