Folha de S.Paulo

Temer articulou em 2002 pasta da Segurança

- WÁLTER NUNES

Um material apreendido pela Polícia Federal na Operação Satiagraha sugere que o presidente Michel Temer (MDB) e um importante lobista de São Paulo tiveram juntos a ideia da criação do Ministério da Segurança Pública 16 anos atrás.

Hoje presidente, Temer quer criar a pasta por meio de um projeto de lei em regime de urgência.

O material em questão é um conjunto de e-mails trocados entre o lobista Roberto Figueiredo do Amaral e interlocut­ores do PSDB e do PMDB nas vésperas da eleição de 2002. José Serra (PSDBSP) era candidato à Presidênci­a, apoiado pelo PMDB de Michel Temer, então deputado federal.

Amaral, que na ocasião prestava consultori­a para o banqueiro Daniel Dantas, dono do Banco Opportunit­y, guardou essas correspond­ências eletrônica­s em um HD externo, que em dezembro de 2008 foi encontrado numa operação de busca e apreensão da Satiagraha.

Durante anos, ele atuou para a empreiteir­a Andrade Gutierrez.

Embora Amaral não tivesse nenhuma ligação específica com a área da segurança, e-mails indicam que o lobista tinha influência em propostas da candidatur­a do tucano, assim como em governos ligados ao partido.

Amaral trata primeiro com o ex-embaixador Andrea Matarazzo e depois manda cópia dos e-mails para Temer e o advogado José Yunes —que foi assessor do peemedebis­ta na Presidênci­a, em 2016.

As conversas acontecera­m em 25 de fevereiro de 2002, um dia após José Serra lançar sua primeira proposta de governo na convenção nacional do PSDB, que foi justamente a criação da pasta da Segurança Pública.

O primeiro e-mail de Amaral, às 10h57, é endereçado a Andrea Matarazzo, a quem ele chama pelo apelido de “Conde”. Na conversa, Amaral anexa o link da notícia que diz que Serra havia lançado a proposta da criação do novo ministério e faz um desafio a Matarazzo.

“Pergunte meu caro conde e embaixador ao careca candidato de quem foi a ideia do Ministério da Segurança. Ele, mendaz (mendaz é mentiroso granfino) como é, dirá que foi dele, mas, neste caso, uma testemunha há: Lulia – o impoluto – também conhecido como Michel Temer.” Com frequência Amaral tratava Temer pelo seu sobrenome do meio: Lulia.

Às 11h09 do mesmo dia Amaral encaminha o mesmo e-mail para Michel Temer e José Yunes. Desta vez, porém, o lobista acrescenta um comentário dizendo que a ideia da criação do ministério foi dele, Amaral, juntamente com Temer.

“A ideia nossa foi (Lulia e eu – o modesto). Se há uma pessoa que mais fez por este governo e menos reconhecim­ento teve esta pessoa foi Lulia.”

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