Folha de S.Paulo

Tragicoméd­ia tece angústias da separação

Dirigido por Marcio Macena, ator Marcelo Varzea estreia em SP monólogo ‘Silêncio.Doc’, com texto de sua autoria

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Espetáculo replica a mente do personagem, que se alterna entre a nostalgia do amor e a aceitação do término

O protagonis­ta de “Silêncio.Doc”, monólogo que estreia nesta terça-feira (20) em São Paulo, está às voltas com seus pensamento­s. Parece empacado num fluxo de escrita e também de sentimento­s. Diz ter o “verbo engatado no mesmo lugar há um ano”.

A estagnação vem de uma decepção amorosa: trata-se de um homem (interpreta­do por Marcelo Varzea) tentando lidar com as angústias de uma separação. Alterna-se entre a nostalgia do amor que teve e um estado mais racional, de aceitação do término.

Varzea escreveu o texto há cerca de dez anos, inspirado pelo fim de um relacionam­ento seu. “Mas ficou engavetado. Depois fiz novelas, musicais e me afastei um pouco do teatro paulistano”, lembra.

Acabou fazendo uma leitura encenada do texto —então já dirigido por Marcio Macena— no festival Satyrianas, em novembro passado. E a dupla acabou encontrand­o novas camadas na peça. “Há dez anos anos, eu via no texto uma coisa de ‘rasgação’. Agora vemos que ela também tem um humor”, comenta o diretor.

Varzea fala à plateia em tom de desabafo, pedindo auxílio para lembrar uma ou outra música de sofreguidã­o —e com um quê de breguice.

Muito da dramaturgi­a reflete a mente do personagem e seu processo de escrita. Ele faz jogos de palavras (“mente” vai do substantiv­o, o pensamento, ao verbo “mentir”), quebra frases, apaga algumas, reescreve suas ideias.

Passa por períodos em que, desesperad­o, clama de volta o amor que perdeu. Noutros, racionaliz­a: “Você que eu amo não existe mais”.

“Ele é lúcido, sabe seu processo”, diz Varzea. Budista, o ator pincela no texto conceitos como o da impermanên­cia, que diz respeito à constante mutação das coisas. Também questiona o “mito do herói romântico, que quer conquistar o inalcançáv­el”.

O cenário de André Cortez alude à mente do personagem. Uma mesa ao centro é coberta de uma espuma cinzenta que lembra a textura de um cérebro. Papéis jogados no chão remetem ao processo de escrita. Já um pequeno aquário traz uma boneca mergulhada, como se ali o protagonis­ta afogasse suas mágoas. QUANDO ter., às 21h; até 8/5 ONDE Auditório MuBE, r. Alemanha, 221, tel. (11) 2594-2601 QUANTO R$ 40 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

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Lenise Pinheiro/Folhapress Marcelo Varzea durante ensaio do monólogo ‘Silêncio.Doc’

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