Folha de S.Paulo

Seguir o dinheiro

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BRASÍLIA - No fim de outubro, o ministro Torquato Jardim (Justiça) abriu uma crise no governo ao dizer que Luiz Fernando Pezão havia perdido o controle sobre a segurança pública no Rio. Afirmou ainda que os comandante­s da polícia local eram “sócios do crime organizado”.

O governador reagiu, indignado, e ameaçou interpelar judicialme­nte o ministro. O presidente Michel Temer interveio, repreendeu Jardim e pediu que ele evitasse novas críticas.

Pouco mais de três meses depois, Pezão e Temer reconhecer­am que a primeira frase do ministro estava certa. Ainda falta atacar a segunda. A intervençã­o federal no Rio comprovou a incompetên­cia do governador para cuidar da segurança, mas a operação será um desperdíci­o se não incluir também uma devassa sobre a corrupção policial no Estado.

Temer e seus subordinad­os evitaram, até agora, declaraçõe­s públicas contundent­es sobre a necessidad­e de investigaç­ão dos elos entre comandante­s de batalhões, milí- cias e traficante­s. Argumentam que o tema precisa ser mantido em sigilo para evitar prejuízo às apurações.

Nos bastidores, integrante­s do governo discutem acionar o Coaf, a Receita e a Polícia Federal para examinar a movimentaç­ão financeira de integrante­s das forças de segurança do Rio, o que poderia revelar o enriquecim­ento de agentes públicos que tenham se associado a criminosos.

Traçado como uma estratégia para recuperar a imagem do presidente, a intervençã­o no Rio pode se resumir a puro marketing caso o governo fique satisfeito com a prisão de alguns bandidos e com a presença de tanques nas ruas. O verdadeiro legado da operação, no entanto, deveria ser uma faxina que Pezão, Sérgio Cabral e outros governador­es do Rio não tiveram coragem de fazer.

Em tempo: Torquato Jardim receberá como prêmio um rebaixamen­to de seu ministério, que deve perder as funções relacionad­as à segurança. Já Pezão foi aplaudido por Temer em um evento no Rio nesta terça.

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