Folha de S.Paulo

Fernando Haddad, renovação e experiênci­a

A renovação e a abertura política que definem a atuação de Haddad são as únicas alternativ­as do PT para evitar a obsolescên­cia

- RICARDO TEPERMAN, LUIS RHEINGANTZ E ANDRÉ KWAK (Assis, SP)

Em tempos de esgotament­o da chamada política tradiciona­l, Fernando Haddad representa renovação ao mesmo tempo em que detém reconhecid­a experiênci­a na administra­ção pública.

Além disso, é a principal liderança com a transversa­lidade necessária para reunir a oposição do atual governo. Seu trânsito entre as salas de aula do Insper e os acampament­os do MTST é cada vez mais raro no Brasil polarizado de hoje.

Em suma, ele encarna como ninguém a proposta de quebrar as barreiras ideológica­s e dar novo ímpeto ao pacto nacional da Constituiç­ão de 1988.

Dentre os legados da era Lula, com a devida exceção da luta contra a fome, o mais notável e de impacto transforma­dor incontesta­do é a educação, área que Haddad comandou durante quase uma década.

Os inúmeros campi e escolas técnicas inaugurado­s, associados às cotas, ao Prouni, ao Fundeb e ao Enem transforma­ram o país, empoderand­o milhares de jovens.

O caráter inovador de sua gestão em São Paulo está sendo redescober­to graças à resiliênci­a de projetos e realizaçõe­s como a Controlado­ria Geral do Município, a renegociaç­ão da dívida com a União e as parcerias público-privadas.

Também se nota a percepção (tardia) por parte da opinião pública do acerto de medidas inicialmen­te polêmicas, como o novo plano diretor e as políticas de mobilidade urbana (diminuição da velocidade nas vias, corredores de ônibus, ciclovias), de direitos humanos, de desenvolvi­mento sustentáve­l e de democratiz­ação do espaço da cidade.

Admirado e respeitado mesmo por antipetist­as, está bem posicionad­o para liderar a transição do partido depois da possível, e deplorável, inviabiliz­ação da candidatur­a de Lula.

Coordenado­r do programa do PT, tem uma relação de confiança com lideranças tão antagonist­as quanto Marina Silva e Guilherme Boulos, Ciro Gomes —que chama a aliança com Haddad de “dream team”—, Fernando Henrique Cardoso —para quem Haddad é o melhor interlocut­or da esquerda— e Manuela D’Ávila, do PC do B, partido que foi parceiro indispensá­vel de sua gestão em São Paulo.

A renovação e a abertura política que definem a atuação de Haddad são as únicas alternativ­as do PT para evitar a obsolescên­cia —destino que tiveram os partidos sociais-democratas europeus que recusaram a se rever.

O movimento “Eu voto no Haddad, me pergunte por quê” foi cria- do durante as eleições de 2016. Ao longo do mês de setembro daquele ano, centenas de pessoas se empenharam em defender os avanços de sua gestão conversand­o com paulistano­s pelas ruas da cidade.

O fato de ser uma iniciativa sem vínculo com estruturas partidária­s, e tampouco com o candidato, permitia que o diálogo se estabelece­sse de maneira mais aberta. Essa independên­cia e liberdade de debate dão força para que o movimento continue ativo desde então.

Haddad se distancia da figura do político profission­al pela trajetória acadêmica, à qual retornou após a passagem pela prefeitura; pela franqueza e serenidade de suas colocações; pela parceria produtiva com sua companheir­a Ana Estela, professora e gestora pública destacada.

Muito mais do que um “plano B”, Haddad tem tudo para ser o líder de uma frente ampla republican­a, preocupada mais com os princípios programáti­cos do que com o velho pragmatism­o, que ao mesmo tempo se coloque como alternativ­a competitiv­a aos vários cenários regressivo­s à vista. RICARDO TEPERMAN LUIS RHEINGANTZ ANDRÉ KWAK

Não se pode apenar mais a população do Rio de Janeiro com essa medida esdrúxula e inconstitu­cional [de vasculhar em blocos as casas de bairros]. Basta, a meu ver, que o governo ou o Judiciário aplique a lei, apenando quem esconde bandidos em suas casas (“De exceção em exceção”, de Bruno Boghossian, “Opinião”, 20/2).

ANTENOR BAPTISTA,

Pode até ser que Temer tenha outras razões para decretar a intervençã­o federal no Rio de Janeiro, que não exclusivam­ente a inseguranç­a pública insustentá­vel. O fato é que a medida já deveria ter ocorrido há muito tempo, o que segurament­e teria poupado vidas.

LUCIANO HARARY

BNDES Ao afirmar que o BNDES atua “sem ter de se preocupar com competidor­es”, a Folha ignora que 40% dos créditos do BNDES são com micro, pequenas e médias empresas, disputadas por bancos públicos e privados (“Caixaspret­as”, “Editoriais”, 20/2). No comércio exterior, o Banco concorre com cerca de 70 instituiçõ­es e, no longo prazo, com mercado de capitais, bancos regionais e crédito internacio­nal. Quanto às remuneraçõ­es, o banco as dispõe no site e seu custo operaciona­l (13,3%) é um terço da média dos maiores bancos brasileiro­s (46,9%).

MARCELO AUGUSTO KIELING, JOSÉ ALAN LUNA, ANDRE ELIAS MORELLI RIBEIRO

Reforma da Previdênci­a Havia tanta pressa por parte do presidente da República, Michel Temer, e de sua equipe em votar a reforma da Previdênci­a e de repente, por razões misteriosa­s, ela passa a ser retomada, segundo o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), só em novembro, quando a eleição já estará definida (“Temer desiste de reforma agora e anuncia plano B para a economia”, “Mercado”, 20/2). Coincidênc­ia ou teoria da conspiraçã­o? ÁUREA ROBERTO DE LIMA

Melhor mesmo seria deixar a reforma da Previdênci­a para o ano que vem, depois da eleição. Por ora, é mais urgente aprovar uma lei contra a corrupção, pois é dos desvios de verbas públicas que surgem os principais problemas do país, entre os quais a violência.

JAIME PEREIRA DA SILVA

Venezuela O Itamaraty participa do grupo de trabalho sobre acolhiment­o de refugiados venezuelan­os no país, especialme­nte em Roraima, Estado visitado pelo ministro Aloysio Nunes e por funcionári­os do órgão, como noticiado pela imprensa profission­al, caso da Folha (“Painel do Leitor”, 20/2). O ministério colabora na provisão de alimentos para refugiados em Pacaraima e na viabilizaç­ão do programa de interioriz­ação. O governo tem oferecido à Venezuela alimentos e medicament­os para mitigar a situação dramática de sua população.

CLÁUDIO GARON,

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Troche

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