Folha de S.Paulo

STJ solta Wesley, mas Joesley ficará preso

Irmãos obtiveram habeas corpus na acusação de insider trading; Joesley seguirá detido em razão de outra decisão

- LETÍCIA CASADO

Defesa diz que ‘foi uma vitória suada, mas muito merecida’ e que a prisão dos empresário­s era desnecessá­ria

Os ministros da sexta turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) concederam habeas corpus aos irmãos Joesley e Wesley Batista, sócios da JBS, presos há cinco meses. A decisão foi tomada por três dos cinco ministros da turma.

O habeas corpus foi concedido na prisão por insider trading, sob a suspeita de terem se beneficiad­o com a compra de dólares e a venda de ações da JBS, aproveitan­do-se do impacto no mercado de seu acordo de delação.

Wesley fica proibido de se ausentar do país, de participar de operações no mercado de capitais e deve usar monitorame­nto eletrônico, além de ter de comparecer em juízo periodicam­ente e manter endereço atualizado. Ele não havia deixado a prisão, em São Paulo, até o fechamento desta edição.

Joesley também foi beneficiad­o com o habeas corpus, mas, na prática, permanecer­á preso porque tem uma prisão determinad­a pelo ministro Edson Fachin, do STF.

O relator Rogerio Schietti considerou a decretação da prisão preventiva acertada, mas destacou que o risco de reiteração no crime ficou enfraqueci­do depois de meses de prisão e é possível substituir por outras medidas.

Eles foram presos em setembro, quando tiveram os acordos de delação rescindido­s pela PGR (Procurador­iaGeral da República).

“Foi uma vitória suada, mas muito merecida. Essa prisão era desnecessá­ria”, disse o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, que defende os irmãos.

No dia 4 de setembro, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, determinou abertura de investigaç­ão sobre o acordo da JBS, que foi rescindido por parte da PGR dez dias depois. Ele apontou indícios de omissão de informaçõe­s sobre práticas de crimes no processo de negociação do acordo.

Depois, a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, reiterou o pedido. Para ela, os colaborado­res omitiram fatos criminosos de que tinham conhecimen­to.

Em novos áudios entregues, datados de 17 de março, Joesley e Ricardo Saud (ex-executivo da JBS) indicam possível atuação do ex-procurador da República Marcello Miller no acordo de delação quando ainda estava no cargo —o qual deixou oficial- mente em 5 de abril. O áudio foi entregue em 31 de agosto.

Em sua manifestaç­ão, Dodge sustentou que Joesley e Saud descumprir­am cláusulas do acordo ao omitirem três informaçõe­s relevantes: o pagamento de R$ 500 mil ao senador Ciro Nogueira (PP-PI) para ele se posicionar a favor do impeachmen­t de Dilma Rousseff, a existência de uma conta bancária no Paraguai em nome de Saud e a participaç­ão de Miller na elaboração da delação, enquanto ainda era membro do Ministério Público Federal.

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