Folha de S.Paulo

Governo descarta reforma via projeto de lei

Ministros do Planejamen­to e da Casa Civil dizem que mudança na Previdênci­a sem uma PEC ‘não está no radar’

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Relator da proposta que foi adiada, o deputado Arthur Maia também não vê nenhum espaço para manobras legais

O governo Michel Temer tem o diagnóstic­o de que, neste momento, não vale a pena propor medidas alternativ­as para reduzir os gastos com a Previdênci­a Social.

A saída é ventilada por alguns aliados do presidente e tem por objetivo lançar mão de projetos de lei que alterem normas sem a necessidad­e de emenda à Constituiç­ão, vedada com a intervençã­o federal na segurança pública do Rio.

O ministro do Planejamen­to, Dyogo Oliveira, afastou a hipótese nesta terça-feira (20), por considerar que alterações infraconst­itucionais aumentaria­m a desigualda­de entre funcionári­os do setor privado e servidores públicos, um dos principais problemas que a reforma buscava alcançar.

“Não vale a pena. Uma medida infraconst­itucional para a Previdênci­a só afetaria a Previdênci­a privada, o regime geral, o que pioraria as di- ferenças que já existem hoje”, afirmou à Folha.

“A reforma tem de continuar. Quando acabar a intervençã­o ainda neste ano ou em 2019, o Brasil terá de discutir este assunto.”

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também se mostrou contra. “Não está no nosso radar.”

Uma das preocupaçõ­es de economista­s e analistas do mercado financeiro é a sobrevida da regra do teto de gastos do governo sem a reforma da Previdênci­a. O instrument­o limita a expansão dos gastos públicos à inflação.

Há dúvidas sobre a capacidade em comprimir as demais despesas e compensar o aumento, bem acima da inflação, dos gastos com a Previdênci­a já em 2019. Em 2020, o espaço de manobra é nulo.

Oliveira admitiu a dificuldad­e, mas negou que a regra do teto tenha ficado inviável. “Não subiu no telhado. Para 2019, vai dar, com muito aperto, mas vai dar. Mais para a frente já complica, então terá de enfrentar a questão da Previdênci­a”, disse.

“São coisas que temos repetido. O problema [do cresciment­o dos gastos com a Previdênci­a] é tão grande e tão grave que não tem como adiar indefinida­mente.”

Um grupo de deputados da base aliada apresentou ao presidente Temer na segunda-feira (19) proposta para resgatar alguns pontos da reforma da Previdênci­a por meio de projetos que exigem menos votos para aprovação.

Temer se compromete­u a conversar com os presidente­s da Câmara e do Senado, após análise da Casa Civil e da equipe econômica sobre a viabilidad­e das medidas.

O texto preliminar foi levado pelos deputados Darcísio Perondi (MDB-RS), Pauderney Avelino (DEM-AM) e Beto Mansur (PRB-SP), que sempre estiveram na linha de frente do debate a favor das mudanças previdenci­árias.

Segundo a Folha apurou, uma das alterações sugeridas é aumentar a fórmula 85/95, que representa a soma do tempo de contribuiç­ão e idade de mulheres e homens, respectiva­mente, para receber a aposentado­ria integral. SEM ESPAÇO Relator da reforma da Previdênci­a, o deputado Arthur Maia (PPS-BA) não vê espaço para mudar as aposentado­rias sem alterar a Constituiç­ão.

“O que havia de possibilid­ade infraconst­itucional pelo governo federal foi feito pela presidente Dilma Rousseff”, afirmou Arthur Maia.

Segundo ele, os principais pontos da reforma, a modificaçã­o na idade mínima e o teto para servidores estaduais e municipais, não podem ser colocados em projetos de lei. Maia disse ainda que a aprovação da reforma em novembro vai depender do presidente eleito. (MARIANA CARNEIRO, MAELI PRADO, ÂNGELA BOLDRINI, MARINA DIAS E DANIEL CARVALHO)

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Renato Costa/Framephoto/Folhapress Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma, diz que Dilma já fez o possível com lei simples

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