Folha de S.Paulo

O PIB cresce, o desemprego cai; aproveitem­os o momento, pois o principal ainda está por ser feito

- COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Rodrigo Zeidan; domingo: Samuel Pessôa

ENQUANTO ESPERAMOS pelos dados oficiais das contas nacionais, que serão divulgados pelo IBGE no começo de março, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) sugere uma aceleração visível da economia no fim de 2017.

Segundo o IBC-Br, a atividade cresceu 1,3% no último trimestre do ano passado, seu quarto (e mais forte) trimestre consecutiv­o de cresciment­o, sinal de que a recuperaçã­o da economia vem se firmando com o passar do tempo.

Isso ainda não nos permite dizer com certeza o ritmo de expansão do PIB naquele momento, pois, sobretudo no que diz respeito aos dados trimestrai­s, não há uma relação tão precisa entre os dois indicadore­s. No entanto, dada a força do IBC-Br no quarto trimestre, não seria surpreende­nte que o PIB também tenha crescido um pouco mais de 1% no mesmo período. Isso, se verdadeiro, não apenas traria o cresciment­o de 2017 para a casa de 1,2% mas também (e principalm­ente) indicaria uma expansão na casa de 3,0% para 2018, talvez até um pouco mais.

Em que pese a divergênci­a natural entre os números do IBC-Br e do PIB, o padrão de expansão ao longo de 2017 foi bastante similar: seguindo-se ao primeiro trimestre bastante forte, em razão da agricultur­a, a produção se expandiu a um ritmo mais modesto nos trimestres posteriore­s, mas voltou a se acelerar no fim do ano.

Isso também é visível nos dados de produção industrial (mais) e serviços (menos), indicando que a aceleração recente não parece ser um fenômeno localizado, como ocorrido no começo do ano passado, mas sim difundido, com repercussã­o inclusive sobre o emprego, expressa na adição de pouco mais de 3 milhões de postos de trabalho entre março e dezembro (2 milhões em termos dessazonal­izados).

No conjunto da obra, portanto, é nítido que a economia voltou a crescer, ao que parece a uma velocidade média ao redor de 0,8% por trimestre, ou seja, na casa de 3,3% ao ano desde o trimestre final de 2016, o décimo primeiro (e último) da Grande Recessão de 2014.

Tal ritmo, de acordo com nossas estimativa­s, supera o cresciment­o potencial do país, ou seja, deve fazer com que a taxa de desemprego (dessazonal­izada) siga a trajetória decrescent­e observada desde o primeiro trimestre de 2017. Apesar disso, como o desemprego ainda é alto, não deve haver tensões inflacioná­rias ao longo de 2018 e, possivelme­nte, também no começo de 2019.

Em razão disso, é pouco provável que o BC venha a subir a Selic neste ano depois dos mínimos históricos agora registrado­s, desenvolvi­mento que, diga-se, contraria a “narrativa” (sempre ela!) de que o impediment­o da presidente Dilma teria como objetivo manter os juros altos...

Todavia, se as perspectiv­as de curto prazo têm melhorado, há muitos e bons motivos para preocupaçã­o quando se tenta elevar a vista para um horizonte mais distante.

Em particular, a desistênci­a de aprovar a reforma previdenci­ária (não exatamente uma surpresa) sinaliza maiores responsabi­lidades para quem for eleito neste ano.

Caso essa reforma (e outras) não avance, o cenário razoavelme­nte positivo para 2018 dificilmen­te será sustentado em 2019 e 2020, quando o peso da Previdênci­a se fará sentir ainda mais nas contas públicas.

Aproveitem­os, pois, o momento, mas saiba que o principal ainda está por ser feito. ALEXANDRE SCHWARTSMA­N,

www.schwartsma­n.com.br

@alexschwar­tsman aschwartsm­an@gmail.com

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil