Folha de S.Paulo

Moedas virtuais viram alvo de ladrões reais

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DO “NEW YORK TIMES”

A moeda que eles queriam era virtual, mas as armas que portavam eram o oposto.

Em Phuket, resort litorâneo da Tailândia, assaltante­s arrastaram sua vítima, um jovem russo, ao apartament­o dele e o mantiveram lá vendado até que ele acessou seu computador e transferiu US$ 100 mil em bitcoins a uma carteira virtual controlada pelos agressores, em fevereiro.

Em Nova York, um homem foi aprisionad­o por um amigo até lhe transferir US$ 1,8 milhão em ether, outra moeda virtual.

Os ricos sempre temeram roubos e extorsões. Agora, os grandes detentores de bitcoins e moedas semelhante­s se tornaram alvos atraentes para criminosos, especialme­nte desde que os preços das moedas virtuais chegaram à estratosfe­ra, no ano passado.

As moedas virtuais podem ser transferid­as facilmente para um endereço anônimo estabeleci­do por um criminoso. Embora bancos possam deter ou reverter grandes transações eletrônica­s realizadas de maneira forçada, não existe um banco do bitcoin para deter ou reverter uma transferên­cia, o que torna as probabilid­ades de um ataque armado assustador­amente atraentes.

Ladrões tiraram vantagem disso em número surpreende­nte de casos recentes, na Rússia, na Ucrânia, na Turquia, no Canadá, nos EUA e no Reino Unido.

“É algo que está se tornando mais comum”, disse Jonathan Levin, fundador da Chainanaly­sis, que já colaborou com diversas agências policiais na investigaç­ão de crimes envolvendo moedas virtuais.

A empresa de Levin se especializ­a em rastrear transações criminosas no blockchain, o livro-caixa computador­izado no qual cada transação com bitcoins é registrada.

Mas, mesmo quando é possível rastrear uma transação, a forma pela qual o bitcoin foi concebido significa que os criminosos não precisam associar suas identidade­s ao endereço usado para manter o bitcoin —como é necessário no caso da maioria das contas bancárias tradiciona­is. Isso impediu o avanço das investigaç­ões policiais em diversos casos. SEQUESTRO O ataque mais audacioso atingiu a Exmo, a Bolsa de moedas virtuais da Ucrânia. O presidente-executivo da organizaçã­o, Pavel Lerner, foi sequestrad­o um dia depois do Natal e libertado dias mais tarde, depois que a companhia pagou em bitcoins um resgate equivalent­e a US$ 1 milhão.

Um porta-voz da Exmo disse que “o dinheiro veio dos fundos pessoais de Lerner”.

Um mês antes, um empresário turco foi forçado a revelar as senhas de suas carteiras de moedas virtuais —que detinham US$ 3 milhões em bitcoins— depois que seu carro foi parado por uma quadrilha armada, em Istambul. PAULO MIGLIACCI

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