Folha de S.Paulo

Para quem ela abre margem para abusos e violações.

- SÉRGIO RANGEL LUCAS VETTORAZZO

DO RIO

O Exército mobilizou 3.000 de seus homens, com apoio de 1.000 policiais civis e militares, para cercar regiões com disputa entre facções criminosas e altos índices de violência no Rio como estratégia para “sufocar” criminosos e preparar terreno para a intervençã­o federal no Estado.

A operação entre segunda (19) e terça (20) foi feita também nas principais vias de acesso ao Rio, com bloqueios que devem se repetir nos próximos dias. Ela foi a primeira depois do decreto do presidente Michel Temer (MDB) para delegar a um general das Forças Armadas a autoridade sobre a segurança pública.

Com presença de tanques e blindados, a ação atingiu rotas rodoviária­s (como a Dutra, que faz ligação com São Paulo) e comunidade­s da capital e região metropolit­ana.

Incluiu barreiras e revistas a pedestres e carros para mapear áreas e inibir bandidos para a segunda fase —que deve ocorrer com a intervençã­o já oficializa­da, após aprovação da medida pelo Senado na noite desta terça-feira.

O cerco visou ainda “cansar” bandidos em fuga, ao forçar deslocamen­tos que atrapalham ações do crime.

Até a noite desta terça, 11 suspeitos foram presos (em flagrante ou com base em mandados) e foram apreendido­s 5 pistolas, 6 granadas, 11 rádios transmisso­res e um revólver, além de drogas, munições e veículos roubados.

A próxima etapa da ação em conjunto com militares terá a entrada nas comunidade­s de agentes das tropas de elite das polícias militar e civil do Rio, como Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e Core (Coordenado­ria de Recursos Especiais).

O cerco dos militares foi feito nas favelas do Chapadão, na Cidade Alta, e Kelson´s, Pica-Pau, Cinco Bocas e Tinta, na zona norte, além de comunidade­s de São João do Meriti e São Gonçalo, na região metropolit­ana, e em rodovias.

Com presença marcante do tráfico de drogas, essas regi- ões também são especializ­adas em roubo de cargas, um tipo de crime crescente e que já havia mobilizado as Forças Armadas no dia 25 devido à ação de caravanas de bandidos para assaltar, roubar cargas e trazer armas e drogas.

Integrante­s da facção criminosa CV (Comando Vermelho) saíram, em 2010, do Complexo do Alemão, na Penha, em razão da instalação da UPP e migraram ao Chapadão.

A área é estratégic­a porque fica perto das principais vias de acesso à cidade, como avenida Brasil, Dutra e rodovia Washington Luís, que corta a Baixada Fluminense.

Traficante­s da facção ADA (Amigos dos Amigos), aliada do PCC (Primeiro Comando da Capital), e do TCP (Terceiro Comando Puro) disputam esses espaços com bandidos do Comando Vermelho.

O total de agentes empregado na operação desta semana equivale a 6,6% do efetivo na ativa da PM do Rio. Em julho de 2017, uma ação chegou a ter 8.000 militares nas ruas. INTELIGÊNC­IA A presença ostensiva da operação foi encerrada à noite, quando setores de inteligênc­ia monitorari­am a movimentaç­ão de criminosos.

A base jurídica para a operação do Exército por enquanto é um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), de julho do ano passado, quando os militares começaram a fazer operações pontuais em favelas do Rio, mas com a segurança pública ainda a cargo do governo estadual.

Após a intervençã­o, a área ficará sob total comando do general Walter Souza Braga Netto, nomeado por Temer.

A gestão Temer manifestou a intenção de pedir aval à Justiça para que tropas do Exército façam mandados de busca e apreensão coletivos em ruas e bairros, sem especifica­r os endereço dos alvos.

A medida é criticada por entidades de direitos humanos,

Comunidade­s do Rio que receberam ações militares

‘CAMUFLADOS’ Um oficial envolvido na operação disse que, além de “sufocar” a área, a ação tentava flagrar criminosos “camuflados de funcionári­os de empresas que prestam serviços ou de estudantes”.

Neste mês, um bando fugiu da Cidade de Deus após um cerco de militares. Eles atravessar­am a Linha Amarela, uma das principais vias expressas, que não estava cercada pela polícia, e sequestrar­am um ônibus para fugir.

Já a favela Kelson´s é vizinha do CIAA (Centro de Instrução

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