Folha de S.Paulo

Planalto decide consultar Judiciário sobre mandados coletivos de busca

Estratégia de Temer é reavaliada por temor de contestaçã­o judicial

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DO RIO

O presidente Michel Temer (MDB) decidiu reavaliar nesta terça (20) a estratégia de pedir à Justiça a expedição de mandados coletivos de busca e apreensão durante a intervençã­o federal no Rio.

Após o anúncio da intenção, na segunda-feira (19), o Palácio do Planalto recebeu a informação de que a medida será contestada judicialme­nte, o que levou à reavaliaçã­o da equipe presidenci­al.

A dúvida é se o instrument­o jurídico pode ser adotado de maneira coletiva durante uma operação policial, sem a necessidad­e de pedidos especifica­ndo cada endereço.

O mandado coletivo não tem amparo no Código Penal ou na Constituiç­ão Federal.

Temer acionou auxiliares para que consultem desembarga­dores do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio) e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). A AGU (Advocacia-Geral da União) avalia ingressar com questionam­ento formal na Suprema Corte.

Especialis­tas em direitos humanos e segurança criticam a proposta de mandados amplos —para eles, a medida abre brecha para violações. ‘INDISPENSÁ­VEL’ Temer tem repetido que irá insistir até onde for possível, por considerar os mandados coletivos essenciais para o sucesso da intervençã­o no Rio.

A ideia é que eles sejam solicitado­s pelo intervento­r Braga Netto e cumpridos pelas polícias Civil e Militar, que seriam acompanhad­as por oficiais das Forças Armadas.

Segundo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o instrument­o é “indispensá­vel”.

Pela manhã, o ministro Torquato Jardim (Justiça) afirmou que o governo federal irá garantir “os direitos fundamenta­is da população”.

A fala foi uma sinalizaçã­o de que poderia haver recuo na medida. Ele reconheceu que “mandado coletivo” não tem previsão legal, mas evitou dizer que o governo tenha descartado a possibilid­ade. Disse ainda que “a intervençã­o federal não suspende nenhum direito fundamenta­l”.

O procurador Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa do Ministério Público Federal na Lava Jato, teceu duras críticas à ideia do governo. Em uma rede social, ironizou a proposta.

“Se cabem buscas e apreensões gerais nas favelas do Rio, cabem também nos gabinetes do Congresso”, escreveu. (GUSTAVO URIBE , SÉRGIO RANGEL E LUCAS VETTORAZZO)

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Leo Correa/Associated Press Agente detém homem durante operação na comunidade Kelson’s, na zona norte do Rio

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