Brasileiros se firmam em feira espanhola
outros. “É muito importante que seja horizontal, uma intersecção entre os artistas”, diz Chaim. “É um projeto mais sobre o coletivo, sobre a ocupação do espaço, e não faz sentido falar em projetos individuais”, afirma Musa.
Foi coletiva, por exemplo, a decisão de remover os móveis do saguão e empilhá-los em um depósito. Os objetos, ordenados de modo a lembrar o Congresso Nacional, tornaram-se uma obra, ainda sem um título (“ocupação?”, cogita Musa, quando fala à reportagem). “É uma intervenção mediada pela situação política brasileira”, afirma.
Os escândalos de Brasília, entre acusações de golpe e investigações de corrupção, reaparecem de alguma forma na exposição. Mesmo o fato de a mostra ser financiada pelo governo impactou a maneira de pensar o espaço. “Essa é uma verba pública e existe uma responsabilidade social de como gastamos ela”, diz Musa. HERANÇA
As obras dela e de outros artistas também foram afetadas pelo vaivém de alunos de português da instituição. “Sentimos a dinâmica do lugar, com as pessoas nos perguntando sobre os nossos trabalhos”, diz Victor Leguy. “Essa foi uma maneira de criarmos uma ponte para esse mundo que é às vezes hermético.”
“É um projeto muito físico, propondo outra experiência, mudando as salas, movendo os móveis, quase uma declaração de intenção”, diz Azambuja. “É da natureza do artista enfrentar um espaço.”
Azambuja pintou de cinza uma planta do tipo hera-dodiabo e posicionou seu vaso no saguão. A instalação, que ele já fez em outras ocasiões, prevê que as folhas do vegetal caiam com o tempo —a mostra fica aberta por três meses— e percam assim a tinta.
Com isso, ele tenta representar sua própria ideia de herança cultural. “É um objeto, algo físico que seus pais lhe deixaram. Mas, apesar do que esperam de você, sua vida encontra outro caminho.”
O artista é representado pela galeria Marilia Razuk, presente na Arco. A Raquel Arnaud —que representa Chaim, Carlos Nunes e Ding Musa—, a Vermelho e a Casa Triângulo também estão na feira. Brasileiros expõem, ainda, pelas espanholas Ponce+Robles e Max Estrella.