Folha de S.Paulo

Empurrãozi­nho suíço

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Foi necessário um movimento espontâneo do Ministério Público da Suíça para que as autoridade­s paulistas finalmente encontrass­em a pista mais contundent­e revelada até agora sobre possíveis desvios de dinheiro público em obras do governo de São Paulo.

Os R$ 113 milhões depositado­s nas contas de uma offshore ligada a Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, podem ser o elemento que faltava para rastrear o dinheiro movimentad­o pelo engenheiro — suspeito de operar pagamentos para agentes públicos e políticos do PSDB.

A Lava Jato completa quatro anos no próximo mês com uma carteira robusta de investigaç­ões sobre a corrupção nos governos do Rio, do Distrito Federal e, agora, do Paraná. Em São Paulo, maior e mais rica unidade da Federação, as apurações nem sequer arranharam a superfície.

O caso de Paulo Preto tem potencial explosivo porque ele integrou por cinco anos a direção da Dersa, empresa paulista de projetos rodoviário­s que coordenou a construção do Rodoanel —uma das principais marcas dos tucanos que comandam o governo do Estado há mais de 20 anos.

Em diferentes inquéritos, executivos de três empreiteir­as (Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez) denunciara­m a formação de cartel e o pagamento de propina na obra, mas a promotoria de São Paulo foi incapaz de demonstrar qualquer avanço significat­ivo nas investigaç­ões.

O ex-diretor da Dersa foi acusado por sete delatores da Odebrecht de cobrar propina para financiar campanhas de José Serra e Aloysio Nunes, do PSDB, e de Gilberto Kassab, do PSD, entre 2004 e 2008. Os políticos negam irregulari­dades e o engenheiro contesta o processo no STF.

Quando surgiram as primeiras suspeitas sobre Paulo Preto, na campanha de 2010, ele deu um recado em tom de ameaça: “Não se abandona um líder ferido na estrada”. Com o empurrãozi­nho suíço, às vésperas de uma nova eleição, o fantasma reaparece para assombrar o tucanato.

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