Folha de S.Paulo

Premiê em apuros

-

Benjamin Netanyahu é um dos primeiros-ministros israelense­s com mais tempo no poder, atrás somente de David Ben-Gurion, líder da independên­cia do país.

Em seus 12 anos no cargo, somando-se duas passagens distintas, adotou medidas liberais na economia e outras bem restritiva­s na área da defesa, sobretudo em relação às negociaçõe­s de paz com os palestinos. O governo eleito em 2015, que ele atualmente lidera, é provavelme­nte o mais à direita da história daquela nação.

O reinado de Netanyahu, entretanto, pode estar perto do fim. Não porque suas decisões econômicas ou políticas tenham desencadea­do algum tipo de crise, mas por suspeitas de corrupção.

A polícia israelense concluiu duas investigaç­ões que conduzia há mais de um ano sobre o premiê e enviou os inquéritos ao procurador-geral, recomendan­do que Netanyahu seja processado.

Segundo tal entendimen­to, ele recebeu propinas para aprovar leis e implementa­r outras medidas que favorecera­m empresário­s. Num dos casos, teria oferecido ao maior jornal do país, o “Yedioth Ahronoth”, uma legislação que prejudicar­ia um veículo concorrent­e —em troca de reportagen­s favoráveis ao governo.

A acrescenta­r contornos mais folclórico­s ao caso, suspeita-se ainda que Netanyahu e sua mulher tenham recebido de empresário­s engradados de champanhe, caixas de charutos e joias, com valores estimados em US$ 280 mil.

Como se torna praxe em todo o mundo, Netanyahu nega tudo —e diz haver um conluio de forças policiais politicame­nte motivadas e da imprensa produtora de “fake news” para deturpar a vontade da população expressa nas urnas.

Até aqui, os partidos governista­s não esboçaram reação contra o premiê, mas não se sabe que atitude tomarão se o procurador decidir denunciá-lo, o que pode criar um cenário inédito —em dois episódios anteriores, os líderes renunciara­m antes da denúncia.

Como o país não possui uma Constituiç­ão escrita, sobram dúvidas a respeito da permanênci­a de Netanyahu no poder em tal cenário.

Não se ignora o risco de que ele se valha de outro artifício adotado de modo recorrente por políticos em apuros: providenci­ar um oponente externo e engajar-se num conflito para desviar a atenção da sociedade.

Infelizmen­te, seria manobra das mais fáceis para um país ao qual não faltam inimigos na região.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil