Folha de S.Paulo

Nova Previdênci­a do servidor de São Paulo

Precisamos resolver a sangria que ameaça os direitos não só dos 220 mil servidores da cidade mas também de seus 12 milhões de habitantes

- CAIO MIRANDA CARNEIRO

Houvesse um dicionário da vida real da gestão pública, ele definiria “Previdênci­a de servidores” como um sistema tão fabuloso que entrega a colheita sempre maior que o plantio. Têm agido assim as gestões da Prefeitura de São Paulo.

Afirmo isso porque sou relator da reforma desse regime, que deverá ser votada em breve na Câmara Municipal de São Paulo.

Não há mais como adiá-la. Precisamos resolver a sangria que ameaça os direitos não só de 220 mil servidores (ativos, aposentado­s e pensionist­as) da cidade mas também de seus 12 milhões de habitantes.

Dados abertos do Instituto de Previdênci­a Municipal de São Paulo (Iprem) mostram que em 2017 o deficit da Previdênci­a do funcionali­smo atingiu R$ 4,7 bilhões.

Já em 2018 deve superar os R$ 5 bilhões. Vamos conviver com isso como se nada estivesse ocorrendo? Num cenário otimista, mantidos a inflação e o cresciment­o do PIB baixos, o buraco dobrará para mais de R$ 10 bilhões em 2025, o que ultrapassa os orçamentos somados de 2017 de Campinas e Guarulhos, as duas maiores cidades do Estado depois da capital.

Impossível negar que um rombo dessa magnitude estrangule investimen­tos vitais em educação, saúde, mobilidade e outras áreas. A asfixia não para aí: quase metade dos servidores (cerca de 40%) atingirá condição de aposentado­ria nos próximos cinco anos.

O servidor não é o culpado. É, sim, vítima da praxe política de adiar o enfrentame­nto de questões impopulare­s. Se agora encaramos medidas duras, é porque não queremos aqui o colapso que sequestra até salário de servidor no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

A reforma em discussão é um aprimorame­nto da gestão João Doria (PSDB) ao projeto apresentad­o pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT).

O novo texto tem três pilares: 1) contribuiç­ão de servidores e prefeitura para honrar direito à Previdênci­a de 220 mil servidores e pensionist­as; 2) criação da Previdênci­a complement­ar e novo regime autossuste­ntável para futuros servidores; 3) reestrutur­ação do Iprem, criado para gerir pensão, não Previdênci­a.

Como relator, meu trabalho será orquestrar todas as vozes numa proposta viável.

A ideia inicial do Executivo é aumentar a alíquota de participaç­ão da prefeitura, de 22% para 28%, e a dos servidores, de 11% para 14%, além de prever uma contribuiç­ão suplementa­r de 1% a 5% somente sobre as faixas de vencimento­s superiores ao teto do regime geral (R$ 5.645,80).

A prefeitura faria, portanto, um esforço maior inicial, aumentando sua contrapart­ida e capitaliza­ndo o Iprem. Especialis­tas da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) estimam que esse redimensio­namento tornaria o sistema autossuste­ntável em 28 anos.

Atenção: mesmo com todas as medidas, prevê-se equilíbrio somente daqui a três décadas.

Essas soluções vêm sendo debatidas amplamente —esta Folha recentemen­te manifestou-se sobre o tema. Precisamos amadurecer como servidores e sociedade, rompendo com a negação do problema. Os dados, repito, estão abertos a todos.

A coragem exigida para tal empreitada é imensa. Agir agora é doloroso porque antes se fingiu que o distúrbio não existia —há quem ainda insista que não existe.

E doerá ainda mais a todos, em especial aos servidores, se, com a farta lição deixada pela demagogia, renunciarm­os a corrigir o problema por comodismo político-eleitoral. CAIO MIRANDA CARNEIRO Defesa Excelente o texto de Roberto Dias (“Pirâmide invertida”, “Opinião”, 22/2). Tanto pela abordagem sobre os males dos crimes de colarinho-branco, que têm sim natureza violenta e cujos praticante­s não deveriam ser agraciados com benesses, como pelo enfoque que dá a certo tipo de advogados.

ROQUE LUIZ R. DA SILVEIRA

A coluna é de uma infelicida­de sem igual. O papel de um advogado é defender o seu cliente da melhor forma e nos limites do ordenament­o jurídico e, como qualquer outro prestador de serviço, deve cobrar o que entende devido. É perverso criticar um profission­al que desempenha sua atividade no interesse do cliente, tanto é que o colunista desvia o foco para o preço do vinho —com o dinheiro recebido da defesa.

LEONARDO GANDARA

Não resisti ao ímpeto de confessar a minha admiração e contentame­nto com o texto. Finalmente, leio na imprensa uma referência lúcida ao advogado a cujo nome o jornal sempre acrescenta o apelido “Kakay”.

ANDREIA ANGEL DE MORAES DOMINGUEZ

Fronteira Eduardo Oinegue foi preciso ao afirmar: “Agride a lógica afirmar que a entrada de armas eleva a criminalid­ade. Acontece o oposto: a criminalid­ade é que eleva a entrada de armas”. Vamos continuar enxugando gelo (“Nem fronteira nem desigualda­de”, “Tendências / Debates”, 22/2).

AURO C. OLIVEIRA

Fernando Haddad

Reconheço meu desgosto por protocolos (há exceções). Um manual de redação apresenta-se como tentador, sobretudo numa época permeada por informação duvidosa, equivocada ou francament­e e propositad­amente falsa. Penso que isoladamen­te a iniciativa seja ineficaz. É preciso estimular e premiar o pensamento reflexivo e crítico, a busca pela verdade, a honestidad­e intelectua­l e a perseveran­ça na busca incessante desses “valores”. Não há manual que resolva a burrice, a preguiça e a desonestid­ade.

GUSTAVO A. J. AMARANTE

Folha, 97 Parabéns pela capacidade de se superarem e entregarem conteúdo e forma cada vez melhores. Obrigada por instigarem o leitor a questionar, criticar, concordar e discordar. Vocês aguçam e exercitam o cérebro. E mostram, com layout e projeto novos, ainda mais amigáveis e leves, como o conteúdo continua sendo o produto mais importante. Outra preciosida­de foi o 2º Encontro Folha de Jornalismo. Foi magnífico, com tanta diversidad­e de opiniões e ideias.

ARLETE DE OLIVEIRA

Tive a honra de assistir aos debates e posso dizer que foram muito interessan­tes e riquíssimo­s. Em algumas ocasiões, o próprio jornal foi criticado, de forma democrátic­a, fundamenta­da e cordata, com todos os participan­tes, empresa, convidados e público oferecendo uma bonita lição de civilidade em tempos tão obscuros.

AUGUSTO CÉSAR QUARTAROLI

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Daniel Bueno

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