Folha de S.Paulo

Em 1ª operação de 2018, Lava Jato mira desvios em concessão no PR

- DE SÃO PAULO

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta (22) a 48ª fase da Operação Lava Jato. Batizada de Integração, mirou a apuração de casos de corrupção ligados aos procedimen­tos de concessão de rodovias federais no Paraná que fazem parte do chamado anel da integração, que liga cidades do Estado.

Policiais federais prenderam seis pessoas temporaria­mente e executaram 55 mandados de busca e apreensão expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba para apurar crimes de corrupção, fraude a licitações e lavagem. A ação foi realizada simultanea­mente em SC, RJ, SP e PR.

Entre os presos está Nelson Leal Júnior, diretor-geral do DER (Departamen­to de Estradas de Rodagem) do Paraná. Segundo as investigaç­ões, ele teria se beneficiad­o de grandes volumes em espécie. Um dos mandados de busca e apreensão foi efetivado na Casa Civil do Estado e teve como alvo Carlos Nasser, assessor do órgão.

Segundo a PF, as investigaç­ões detectaram suspeita do uso das estruturas de lavagem de dinheiro reveladas na Lava Jato para operaciona­lizar os recursos ilícitos pagos a agentes públicos, principalm­ente por meio dos operadores financeiro­s Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran, ambos já investigad­os pela operação.

Tacla Duran, segundo o Ministério Público, teria utilizado seu escritório de advocacia para firmar contratos fictícios e produzir dinheiro em espécie. As investigaç­ões da PF também apontam que uma das concession­árias teria se utilizado dos serviços de Adir Assad e Duran para operaciona­lizar, ocultar e dissimular valores oriundos de corrupção.

Entre os serviços prestados por estes operadores, de acordo com a PF, está a viabilizaç­ão do pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos do Dnit (Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s) e DER/PR.

Em entrevista, o procurador Diogo Mattos exemplific­ou uma das situações em que as empresas teriam sido indevidame­nte beneficiad­as.

Segundo ele, uma auditoria do Tribunal de Contas da União identifico­u em 2012 desequilíb­rios nos contratos e determinou que o problema fosse resolvido em um ano. Então, o DER contratou uma fundação para realizar um estudo, que indicou a necessidad­e de reduzir a tarifa do pedágio em cerca de 19%.

Mattos afirmou que o DER desconside­rou o estudo, que teria custado R$ 3 milhões, e elaborou internamen­te um novo, que concluiu que a tarifa deveria crescer 24%.

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima destacou que cada usuário das rodovias do Paraná foi impactado pelo esquema. “Privatizaç­ões não necessaria­mente levam ao fim da corrupção.” OUTRO LADO Em nota, o governo do Paraná afirmou que o governador Beto Richa (PSDB) determinou investigaç­ão interna sobre as suspeitas levantadas na Lava Jato, que será de responsabi­lidade da Controlado­riaGeral do Estado. Disse ainda que Carlos Nasser ocupava um cargo de terceiro escalão, “sem qualquer vínculo com o gabinete do governador”. O governo também informou que Leal foi afastado de suas funções.

O Dnit disse que eventuais servidores citados não estão mais no departamen­to. Duran diz que congressis­tas apresentar­am à PGR acusações que ele fez contra a força-tarefa da Lava Jato, o que torna os procurador­es e Moro “impedidos de conduzir” processos contra ele. A defesa de Assad disse que ele continuará colaborand­o com as autoridade­s.

(GÉSSICA BRANDINO, ANA LUIZA ALBUQUERQU­E E FELIPE BÄCHTOLD)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil