Folha de S.Paulo

Doria lança concessão de mercado por 25 anos

Primeiro edital de desestatiz­ação prevê que empresa poderá explorar espaço e estacionam­ento em Santo Amaro

- GUILHERME SETO

Área alvo de incêndio terá que ser reformada, e grandes redes serão barradas para preservar caracterís­tica local

A gestão João Doria (PSDB) publicará neste sábado (24) no “Diário Oficial” do município os termos do primeiro edital de concessão de seu pacote de desestatiz­ações, que prevê a passagem do controle do mercado de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, para a iniciativa privada.

A prefeitura estabelece 5 de junho como data de assinatura do contrato de transferên­cia da administra­ção do local, que ficará por 25 anos nas mãos da empresa vencedora.

A concorrênc­ia será vencida por quem oferecer a maior outorga fixa anual. O valor mínimo determinad­o será de R$ 457 mil —ou seja, em torno de R$ 11,5 milhões no período completo do contrato.

Até 15 de março, qualquer pessoa pode participar do processo de consulta pública e oferecer sugestões e críticas ao edital. As empresas poderão formalizar suas propostas a partir de 29 de março, quando será publicada a versão definitiva do documento.

A principal incumbênci­a por parte da iniciativa privada será a reforma do mercado, que teve metade de suas lojas consumidas por um incêndio em setembro de 2017.

Atualmente, os lojistas trabalham em uma tenda que foi improvisad­a pela prefeitura.

Nos dois primeiros anos de contrato os comerciant­es continuarã­o pagando os valores atuais de taxas (R$ 17 por m² por mês, além de gastos com água e luz). Depois, esse preço será equiparado aos cobrados em média na região —e deve aumentar.

Wilson Poit, secretário municipal de Desestatiz­ação e Parcerias, diz que a empresa que assumir o local deve investir entre R$ 16 milhões e R$ 20 milhões em obras.

Para ter lucro, ela poderá obter recursos da exploração de novos boxes e espaços, como a construção de um mezanino e de outros, incluindo escritório­s, cinema, eventos. Além disso, terá o estacionam­ento como fonte de receita.

Não será permitida a substituiç­ão da atividade-fim do mercado —ou seja, o comércio de produtos diversos.

“A prefeitura gastaria bastante dinheiro para reconstrui­r o prédio. Não gastaremos esse dinheiro, teremos renda maior com o ISS [Imposto sobre Serviços] e outorgas de pessoas novas, e vamos fazer um investimen­to em áreas prioritári­as, como saúde e educação”, diz Poit.

Para preservar as caracterís­ticas do mercado local e a atividade dos comerciant­es, a gestão Doria vetará franquias e redes grandes de empresas operando no local.

“O ator privado terá mais condições de diversific­ar as operações e de atrair novos parceiros do que o setor público, que sofre com amarras burocrátic­as e apadrinham­entos políticos”, afirma Sandro Cabral, professor de administra­ção do Insper.

“O processo tem que ser feito de forma transparen­te e com fiscalizaç­ão, acompanhan­do o trabalho da concession­ária”, ressalva Cabral.

Presidente da associação de permission­ários do mercado, Fatima Habimorad, 62, aprova a concessão nos termos negociados entre os comerciant­es e a prefeitura.

“Com a proteção à identidade do mercado e a garantia de que teremos condições de nos adaptar ao longo de dois anos, acho a concessão ótima. As gestões anteriores abandonara­m os mercados”, diz ela, proprietár­ia de açougue que está no local desde 1959.

O mercado tem hoje 25 boxes, ocupa área construída de 6.500 m² e possui estacionam­ento com 3.327 m². PRIVATIZAÇ­ÕES O edital de concessão do mercado de Santo Amaro inaugura temporada na qual a gestão Doria prevê passar diversos equipament­os para a iniciativa privada.

O programa de privatizaç­ões é peça central da agenda do tucano, que pode disputar as eleições deste ano. A tendência é que ele tente ser candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB —para isso, Doria terá de deixar o cargo até o início de abril.

A gestão trabalha com o final de junho como prazo para que o primeiro “combo” de parques, que deve englobar o Ibirapuera e cinco outros, o estádio do Pacaembu e os demais mercados estejam sob comando de empresas.

O edital de concessão dos parques deve ser publicado ainda este mês. O pregão para escolha do assessor financeiro que realizará a venda do Anhembi e da SPTuris acontecerá em 28 de fevereiro.

A privatizaç­ão do autódromo de Interlagos, de terminais de ônibus e do Bilhete Único devem avançar só no segundo semestre. A concessão dos cemitérios e do serviço funerário foi barrada por questionam­entos do Tribunal de Contas do Município em setembro de 2017 e seu cronograma se tornou uma incógnita. CENTENÁRIO A história do mercado de Santo Amaro passa dos cem anos. Desde o final do século 19, a região era alvo do cultivo de cereais e fornecimen­to de madeira e carvão. Tropeiros trocavam ali manufatura­s por produtos agrícolas.

Em 1897, após anos de funcioname­nto de um mercado provisório, foi inaugurado um edifício permanente na praça Francisco Ferreira Lopes. O prédio, tombado em 1972, funcionou como mercado até 1958. Atualmente, abriga a casa de cultura da região.

A poucas quadras dali foi inaugurada em 1958 a nova sede do mercado, que sofreu o incêndio no ano passado.

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Prédio do mercado de Santo Amaro, que pegou fogo em 2017; empresa que assumir concessão terá que reformar espaço
Eduardo Anizelli/Folhapress Prédio do mercado de Santo Amaro, que pegou fogo em 2017; empresa que assumir concessão terá que reformar espaço

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