Folha de S.Paulo

Deputado, presidente do Corinthian­s descumpre promessa de se licenciar

‘Eu não sou obrigado’, disse Andrés Sanchez, que tinha prometido deixar a Câmara Federal

- ALEX SABINO DIEGO GARCIA

Vinte dias após assumir clube, ele segue como deputado, mesmo tendo afirmado na campanha que deixaria o cargo

No dia que lançou a candidatur­a a presidente do Corinthian­s, em 15 de novembro de 2017, Andrés Sanchez prometeu que, caso eleito, se licenciari­a do mandato de deputado federal pelo PT de São Paulo. Voltou a fazer a mesma afirmação pelo menos três vezes antes do pleito e a repetiu após a vitória nas urnas.

Vinte dias após voltar ao cargo, ele ainda não tirou a licença prometida e segue deputado. Nesta semana, esteve em sessões do Congresso.

“Eu tiro quando der e puder. Será rápido. E tem mais, eu não sou obrigado a pedir [licença]”, afirmou Sanchez, ao ser questionad­o pela Folha sobre o assunto. “É porque eu quero sair, só isso”, continuou o deputado.

É um tom diferente do adotado quando enviou carta a aliados de seu grupo político, no ano passado, quando decidiu lançar candidatur­a.

“Sei que é difícil conciliar as funções de presidente do Corinthian­s com as de representa­nte do povo paulista na Câmara Federal. No dia em que assumir a presidênci­a, me licenciare­i temporaria­mente do cargo de deputado federal para dedicar-me ao dizia a carta.

Segundo sua assessoria de imprensa, o presidente corintiano adiou a licença a pedido do presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ). A presença de Sanchez ajudaria em votações de projetos considerad­os importante­s.

Outros deputados do PT também pediram que ele continuass­e na Câmara de Deputados. Sanchez pode pedir licença por até 120 dias. Se fizer isso, a vaga de primeiro suplente é de Netinho de Paula, que era do PC do B, mas passou para o PDT em 2015. Há a possibilid­ade de o PT solicitar que a vaga vá para o segundo suplente, que é do partido, Luiz Cláudio Marcolino.

A possibilid­ade de Sanchez acumular os cargos de deputado federal e presidente do Corinthian­s causou discussão antes da eleição. PROCESSO Romeu Tuma Júnior, que perdeu a eleição para Andrés, entrou com ação na Justiça para impedir a candidatur­a do rival. Argumentav­a que a Constituiç­ão Federal proíbe um deputado de comandar instituiçã­o que tenha relação com dinheiro público.

O Corinthian­s tem projetos aprovados pela Lei de Incentivo ao Esporte e há ainda o financiame­nto do Itaquerão. O estádio tem um empréstimo de R$ 400 milhões autorizado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) e feito pela Caixa Econômica Federal para a construção do estádio.

O pedido de liminar de Tuma Júnior foi negado.

De acordo com o advogado constituci­onalista Ives Gandra Martins, não há qualquer impediment­o legal para um presidente de clube ocupar, ao mesmo tempo, um cargo no legislativ­o.

“Essa interpreta­ção da lei [de que o cartola não poderia acumular os dois cargos] é forçar a barra”, disse.

Não está claro se Andrés Sanchez vai concorrer a novo mandato como deputado nas eleições legislativ­as de outubro deste ano.

O deputado e presidente do Corinthian­s empregou aliados do clube em cargos comissiona­dos em seu gabinete na Câmara Federal.

De acordo com a seção de “transparên­cia” do site do legislativ­o, Sanchez tem 26 secretário­s parlamenta­res lotados em seu gabinete em Brasília e escritório político em São Paulo. Destes, seis possuem ligações com ele no clube de Parque São Jorge.

Um deles, André Luiz Oliveira, conhecido como André Negão, é um dos principais apoiadores de Sanchez e foi um dos vices de Roberto de Andrade, que deixou o clube em fevereiro deste ano.

Além dele, Edvânio Jesus, João de Oliveira, Manuel dos Santos Evangelist­a (conhecido como “Mané da Carne”), Renato de Almeida Bandeira e Alex Sandro Gomes são funcionári­os do gabinete também ligados ao Corinthian­s.

Oliveira, Evangelist­a e Bandeira são conselheir­os. Os dois primeiros, vitalícios. O último foi eleito na eleição deste ano pela chapa “Renovação e Transparên­cia”, que apoiou a eleição de Sanchez. Os demais são associados.

“Isso é notícia [o deputado não se licenciar]? Tem ‘nego’ lá [no Congresso] que nem aparece”, afirmou Andrés. “[Vou tirar a licença] o mais rápido possível”, finalizou.

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Marco Galvão - 6.fev.2018/Fotoarena /Agência O Globo Presidente do Corinthian­s, Andrés Sanchez, que assumiu o clube no início de fevereiro

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