Folha de S.Paulo

Lucro sem concorrênc­ia

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Entre os muitos fenômenos peculiares da economia brasileira, um dos que mais chamam a atenção é a lucrativid­ade dos bancos, sempre bem acima das observadas em outras atividades e nas comparaçõe­s internacio­nais.

Em contraste com o que costuma acontecer no restante do mundo, aliás, aqui parece fazer pouca diferença se há prosperida­de ou recessão. Nos dois casos, as instituiçõ­es financeira­s têm apresentad­o bom desempenho.

Em 2017, os resultados de quatro grandes bancos —Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander, que concentram 60,3% dos ativos do sistema— bateram novos recordes. O lucro conjunto atingiu R$ 64,9 bilhões, em alta de 21% sobre o ano anterior, com o impulso da menor inadimplên­cia.

A queda de 13,75% para 7% ao ano da taxa Selic, do Banco Central, ajudou a reduzir os juros das operações de crédito bancário. Estes, porém, mantêm-se em patamares absurdos, de 55% na média.

Muito já se sabe sobre as razões para os ganhos elevados dos bancos e a desproporc­ionalidade em relação às demais empresas.

A partir dos diagnóstic­os mais consensuai­s, há um bom número de propostas para reforçar a concorrênc­ia e a democratiz­ação do crédito —uma agenda que ainda caminha a passos lentos.

A concentraç­ão no setor é uma das mazelas mais notórias, porém também a mais difícil de enfrentar —ela cresce há décadas, à medida que os gigantes absorvem instituiçõ­es médias e pequenas.

De todo modo, cumpre incentivar a entrada de novos participan­tes, muitos ancorados em inovações tecnológic­as. Ademais, o cadastro positivo garante ao consumidor a plena posse e uso de seu histórico de crédito.

Para a redução das taxas, o foco são melhorias institucio­nais que reforcem a qualidade das garantias entregues pelos devedores. A adoção da duplicata eletrônica e ajustes na lei da recuperaçã­o judicial, por exemplo, tendem a facilitar o acesso de pequenas e médias empresas ao canal bancário.

Por fim, há que reduzir o descabido volume de crédito concedido com taxas tabeladas por lei, como os financiame­ntos do BNDES. Como uma meia-entrada no cinema, essa aparente bondade implica custos maiores para os demais.

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