Folha de S.Paulo

O desembarqu­e do DEM

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BRASÍLIA - A cúpula do DEM começa a discutir os termos de seu desembarqu­e do governo Michel Temer daqui a duas semanas, depois da convenção partidária marcada para o dia 8 de março. Na ocasião, a sigla lançará Rodrigo Maia como pré-candidato à Presidênci­a, em um caminho que deve ser traçado a partir do distanciam­ento gradual em relação ao Palácio do Planalto.

Não haverá rompimento, ataques ou comportame­nto de oposição —e nem poderia haver. O partido foi sócio do impeachmen­t que levou Temer ao poder e colaborou com a implantaçã­o de sua agenda econômica, o que elimina a credibilid­ade de uma mudança brusca de posição.

O que os caciques do DEM debatem é uma fórmula segura para reduzir a contaminaç­ão que a enorme impopulari­dade do presidente deve ter na campanha eleitoral. Dirigentes estão convencido­s de que Maia e outros candidatos da sigla pelo Brasil só serão viáveis se estiverem desvincula­dos do patrocínio do governo.

O ponto emblemátic­o dessa estratégia será evidente: a saída de Mendonça Filho do Ministério da Educação. Ele deve deixar o cargo em 7 de abril para poder disputar as eleições. A disposição do partido é não fazer nenhuma indicação política para substituí-lo no posto.

O desembarqu­e permitirá que DEM e Maia reforcem o discurso de defesa da pauta econômica liberal lançada por Temer e encampada pelo Congresso. O presidente da Câmara poderá argumentar que exerceu protagonis­mo no avanço das reformas mesmo depois de adotar uma posição mais independen­te, sem subserviên­cia à agenda do Planalto.

O movimento divide o campo da centro-direita em dois polos na corrida presidenci­al. De um lado, estarão nomes com selo de aprovação governista, como Temer e Henrique Meirelles (PSD). Em outro campo, Maia disputará espaço com Geraldo Alckmin (PSDB). O desembarqu­e do DEM dará início ao teste final sobre a viabilidad­e dessas candidatur­as.

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