Folha de S.Paulo

1989, 2018

Os ecos autoritári­os parecem ressonar com mais força agora do que em 1989. Cabe à sociedade ficar atenta aos riscos institucio­nais postos

- MARCO ANTONIO CARVALHO TEIXEIRA E RENATO SÉRGIO DE LIMA

Há semelhança­s sociopolít­icas e históricas entre 1989 e 2018?

Se olharmos em perspectiv­a, de fato, encontrare­mos pontos que ligam a primeira eleição presidenci­al direta após o fim da ditadura e o pleito de outubro deste ano.

Podemos citar a centralida­de do tema corrupção; os altos índices de impopulari­dade dos presidente­s da República nos dois períodos (José Sarney em 1989, Michel Temer agora); o fato de ambos ocuparem os cargos sem terem sido os eleitos nominalmen­te (eram vices); as graves crises fiscal e econômica vividas; as defesas de reformas que desmontam ou revisam dispositiv­os da Constituiç­ão de 1988.

E, claro, as presenças de Lula e Fernando Collor entre os pré-candidatos ao cargo máximo do país.

No entanto, as semelhança­s escondem diferenças que, a despeito de uma visão geral, não permitem considerar que o padrão do debate eleitoral de 1989 possa ser repetido em 2018.

Em 1989, o Brasil estava, em termos estruturai­s, pouco integrado ao mercado internacio­nal, com baixa taxa de desemprego (pouco mais de 3%) e uma inflação estratosfé­rica (quase 2.000% ao ano). Naquele ano havia, em quase todas as candidatur­as, uma aposta na modernizaç­ão e na ampliação da cidadania.

Passados 29 anos, o país globalizou-se e controlou a inflação (menos de 3% em 2017), a grande inimiga da sociedade em 1989 e o principal tema do debate político da época.

O desemprego (próximo de 12%) convive com o cresciment­o do emprego informal, tido como uma das consequênc­ias nocivas da flexibiliz­ação das regras trabalhist­as.

Neste ano, em consequênc­ia da “tempestade perfeita” criada pela crise política (manifestaç­ões de 2013, impeachmen­t de Dilma Rousseff, denúncias de corrupção contra Temer, condenação de Lula) e da crise econômica, dois elementos devem dar o tom do debate eleitoral: reformas econômicas e, sobretudo, segurança pública.

Este último tema é, hoje, a “bengala moral” em que todas as pré-candidatur­as terão que se apoiar caso queiram ter perspectiv­as de vitória. As cenas de desordem urbana e os altos índices de medo e violência no país colocam em risco os arranjos institucio­nais precariame­nte modernizad­os após a Constituiç­ão de 1988.

O maior exemplo é a intervençã­o federal no Rio de Janeiro, que quebra o pacto federativo e, na prática, transfere a segurança pública para a esfera da segurança nacional.

Um fato sem dúvida muito demandado por setores mais conservado­res do país, porém que desestrutu­ra por completo a ideia de um projeto de segurança cidadã que não seja baseado no confronto.

Permanece inalterada, assim, a política criminal e penitenciá­ria herdeira da ideia de “guerra às drogas”.

Embora provavelme­nte a medida acarrete efeitos tópicos e paliativos, deverá, por outro lado, fortalecer uma agenda regressiva de direitos e o endurecime­nto penal.

Essa é a maior diferença entre 1989 e 2018. Com o fim do regime militar, a eleição de 89 ocorreu em meio ao processo de redemocrat­ização e de ampliação de direitos. Hoje há forte disputa entre a manutenção de uma agenda de direitos civis, humanos e sociais e a suspensão dos mesmos como estratégia de controle do crime, da violência e da corrupção.

Antes fundamenta­is no redesenho de uma nova ordem constituci­onal, os partidos perdem agora espaço para novos movimentos sociais. O sistema político é confrontad­o com desafios que não estavam presentes no horizonte pós-1989.

Em um ambiente de desconfian­ça generaliza­da, se queremos ter futuro enquanto nação civilizada, é importante reforçar que não há saída fora da democracia e do Estado de Direito.

Os ecos autoritári­os parecem conjuntura­lmente ressonar com mais força do que aqueles de 1989. Cabe à sociedade ficar atenta aos riscos institucio­nais postos. MARCO ANTONIO CARVALHO TEIXEIRA RENATO SÉRGIO DE LIMA,

Reinaldo Azevedo (“Intervençã­o pode revelar governo real”, “Poder”, 23/2) e Vladimir Safatle (“Capítulos de uma guerra civil”, “Ilustrada”) apresentam opiniões antagônica­s sobre a intervençã­o federal no Rio de Janeiro. Paradoxalm­ente, eu me descubro concordand­o com ambos. E reflito: “Não queria ter razão – queria ser feliz”, conclusão de Ferreira Gullar narrada por Ruy Castro (“Razão em não querer tê-la”, “Opinião”).

EDUARDO JOSÉ DE OLIVEIRA

Previdênci­a O texto não traz valores, estatístic­as, números ou qualquer argumento embasado para defender a tal reforma (“Nova Previdênci­a do servidor de São Paulo”, “Tendências / Debates”, 23/2). O autor [Caio MIranda Carneiro, vereador] fala no vazio. Só diz que é boa para as contas públicas. Assim, fica difícil dar credibilid­ade à reforma.

SIMONE RODRIGUES MARTINO

Sem reforma quem sai perdendo é a população mais pobre e o desenvolvi­mento da cidade e do Estado. Não é possível mais adiar discussões difíceis, mas inadiáveis. Que seja aprovada, o dinheiro do contribuin­te tem que ser gasto em investimen­tos.

VICTOR HUGO GUIMARÃES ORLANDO PEREIRA BARRETO NETO

Funcionali­smo Samuel Pessoa concluiu que servidores não têm proventos limitados, com base no dado de que, em média, os salários deles são 70% maiores do que os do setor privado (“Legal igual a moral?”, “Mercado”, 18/2). Ora, não tem lógica utilizar um dado sobre a média para analisar uma questão sobre limites. Limite refere-se ao máximo, aos salários no topo da distribuiç­ão. E um excelente médico, dentista ou professor universitá­rio, ao optar pela carreira pública, tem sim o salário limitado, o que não é o caso de seus pares no setor privado.

PAULO NADANOVSKY, Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)

Tucanos Com a coragem e sinceridad­e de declarar que os caciques tucanos se consideram melhores que a elite política brasileira, o PSDB traiu a esperança dos 51 milhões que votaram em Aécio Neves. Arthur Virgílio deveria ser o candidato à presidênci­a da República. Parece que o partido está pronto para perder a eleição mais uma vez (“Sem disputa nacional, tucanos veem chance de não haver prévia em SP”, “Poder”, 24/2).

ANDRÉ PEDRESCHI ALUISI

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Martin Kovensky

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