Folha de S.Paulo

Mou o deputado Paulinho da Força (SP), presidente do Solidaried­ade.

- RANIER BRAGON CAMILA MATTOSO

DE BRASÍLIA

Nem reforma da Previdênci­a nem intervençã­o no Rio de Janeiro. Os corredores, gabinetes e salões do Congresso Nacional abrigaram nos últimos dias um intenso mercado de deputados federais com ofertas bancadas pelos cofres públicos.

“Não tem ideologia, é tudo dinheiro.” “Nunca houve uma negociação tão explícita.” “Tem uma turma aí que joga pesado.” As declaraçõe­s de parlamenta­res de três partidos são algumas das várias gravadas pela Folha em conversas, na semana que passou, com 56 deputados de 19 legendas.

A exemplo da janela de transferên­cia de jogadores de futebol, o “passe” na Câmara vem sendo negociado por valores que variam de R$ 1 milhão a R$ 2,5 milhões.

As negociaçõe­s ocorrem até durante as sessões e viraram tema da reunião de uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados, a do PSDB, com o presidenci­ável Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, na quarta-feira (21).

“‘Passe’, aqui virou jogador de bola, é ‘passe’. Eu falei muito claro o seguinte: ‘Gente, quem quiser sair por causa de dinheiro que saia logo’”, disse Nilson Leitão (MS), líder da bancada.

De 8 de março a 6 de abril será aberto um período em que os parlamenta­res poderão trocar de partidos sem risco de perder o mandato por infidelida­de.

O assédio aos deputados se dá porque o desempenho das legendas na eleição para a Câmara, em outubro, definirá a sobrevivên­cia ou morte delas. As verbas públicas e o tempo de propaganda na TV para legendas são definidos com base no desempenho, nas urnas, de seus candidatos a deputado federal.

Essa será a primeira eleição geral sem a possibilid­ade de financiame­nto empresaria­l. Com isso, as campanhas contarão com dinheiro público —a soma de dois fundos (o partidário e o eleitoral), de R$ 2,6 bilhões—, autofinanc­iamento, além de doações de pessoas físicas.

Projeta-se que cada voto para deputado valerá para a legenda, só de fundo partidário, R$ 9 ao ano.

Entre os parlamenta­res que admitem estar ouvindo propostas, todos dizem ainda estar avaliando o cenário.

“Ciro Nogueira [presidente do PP] e Valdemar [Costa Neto, um dos líderes do PR] são os caras mais profission­ais. (...) Está todo mundo escutando muito [sondagens], até pra ver o que está vindo de todos os lados. (...) Todo partido quer deputado, e aí você ouve ‘vem pra cá’, ‘vem pra cá’… Mas eu primeiro vou escutar o meu partido. Meu partido nunca falou ainda pra mim o que eu vou ter, como que vai ser”, declarou Uldorico Júnior (PV-BA).

“Tem um mercado. Depende do quanto paga, né?”, afir- Como é dividido entre os partidos Para onde vai Assédio Troca Reeleição Com melhores condições financeira­s e de propaganda, deputado tem reeleição facilitada O partido que o adquiriu vai receber mais dinheiro de fundo eleitoral e partidário nas próximas eleições Partidos que estão indo às compras: PR, PP e DEM Tentam segurar seus deputados: MDB, PT, PSDB À FRENTE DO BALCÃO Ele faz um diagnóstic­o que é repetido por quase todos os parlamenta­res ouvidos pela Folha: o de que o PP (Partido Progressis­ta), sigla de Paulo Maluf e uma das principais envolvidas na Lava Jato, e o PR (Partido da República), de Valdemar Costa Neto, um dos condenados no mensalão, lideram as ofertas, com a promessa de R$ 2,5 milhões do fundo eleitoral, o máximo que um deputado poderá gastar na campanha. Teriam também controle da legenda no Estado e tempo de propaganda na TV.

Cinco parlamenta­res disseram à reportagem ter ouvido relatos de propostas ainda maiores, com o compromiss­o de repasses mensais, além do montante para a eleição de outubro.

O DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), também aparece como um dos que estão na linha de frente do balcão.

O partido, porém, não estabelece­u ainda um valor específico, tendo prometido até agora dar aos novos deputados a mesma quantia que destinará aos atuais.

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