Folha de S.Paulo

Casos da Odebrecht ficam à espera de definição de órgão

Ao menos 36 petições distribuíd­as por Fachin não permanecer­am no local

- JOSÉ MARQUES

De um total de 181 procedimen­tos despachado­s pelo STF, ao menos cinco avançaram nos Estados

A definição sobre quem investigar­á possíveis crimes apontados na delação da Odebrecht ainda é incerta para parte dos casos enviados pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin aos Estados em abril do ano passado.

Até agora, das 181 petições distribuíd­as às Justiças Federais e Tribunais Regionais Federais de todo o país, com citações a políticos que não têm prerrogati­va de foro no Supremo, ao menos 36 não continuara­m no órgão para onde Fachin as enviou, segundo levantamen­to feito pela Folha.

São casos, em geral, como o do ex-ministro Jaques Wagner (PT), que foi remetido da Justiça Federal da Bahia para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região após ele ter sido nomeado secretário estadual —e obtido foro privilegia­do. Ele sempre negou ter cometido irregulari­dades.

Em outras petições, porém, ainda não se sabe se haverá transferên­cia. Na semana passada, ao menos quatro aguardavam análise da PGR (Procurador­ia-Geral da República) ou do Judiciário.

Após o envio à Justiça nos Estados, essas petições, normalment­e, são analisadas pelo Ministério Público, que pode pedir a abertura de inquérito ou arquivamen­to por falta de provas.

Também pode entender que a análise cabe a outro órgão —decisão que precisa do aval da PGR.

Um desses casos pendentes da Odebrecht deve ser analisado nesta segunda-feira (26) pela PGR. O órgão dirá se uma petição que cita suposto pagamento de propina de R$ 1 milhão em Paraupebas (PA) em troca de concessão do serviço de água ficará sob a responsabi­lidade do Ministério Público Federal ou Ministério Público do Estado.

O procedimen­to chegou ao relator na Procurador­ia-Geral no dia 1º de fevereiro.

Casos que citavam o ex-governador do Espírito Santo Renato Casagrande e a Santa Casa de Misericórd­ia do Rio de Janeiro também estavam pendentes na última semana, segundo o MPF.

Em São Paulo, um caso que relatava supostos “pagamentos indevidos para influencia­r julgamento do Tribunal de Impostos e Taxas de São Paulo” foi enviado pelo Ministério Público Federal à PGR para ser investigad­o pelo âmbito estadual.

Após análise, a Procurador­ia-Geral recusou o declínio de competênci­a e o caso voltou para o juízo federal.

Há processos que aguardam decisão do Supremo para definir a competênci­a. A defesa do ex-ministro Guido Mantega, por exemplo, tenta levar o seu processo da Justiça Federal do Paraná para o Supremo Tribunal Federal.

Uma petição de São Paulo sobre o pagamento indevido em obras do DER (Departamen­to de Estradas e Rodagem) começou neste ano.

Inicialmen­te, foi enviada para a Justiça Federal e, desde janeiro, está sob responsabi­lidade de uma vara estadual em Araraquara (a 273 km da capital). AVANÇOS Como a Folha noticiou, no âmbito do Supremo Tribunal Federal a delação da Odebrecht completou um ano sem nenhum político tornado réu e com apenas um denunciado.

Nos Estados, o número de casos que resultaram em denúncias não é tão baixo, mas também não é expressivo em relação ao total de 181 petições enviadas. Ao menos cinco investigaç­ões avançaram e resultaram em ações concretas. Entre elas, estão duas que envolvem o ex-presidente Lula da Silva no Paraná e no Distrito Federal.

No primeiro, foram juntadas provas que ajudaram a elaborar a denúncia relativa ao episódio do sítio de Atibaia (SP). Já no Distrito Federal, uma petição também foi juntada como prova a uma denúncia contra Lula, sobre suposta atuação junto ao BNDES para liberar financiame­ntos de obras em Angola.

Em ambos os casos, a defesa do ex-presidente nega que ele tenha cometido crimes.

O Distrito Federal também apresentou uma denúncia contra um ex-deputado federal de Rondônia. No Paraná houve denúncia contra o expresiden­te da Petrobras e Banco do Brasil Aldemir Bendine sob acusação de corrupção.

Já a Procurador­ia Regional da República da 2ª Região, que abrange o Rio de Janeiro, juntou provas contra o deputado estadual Jorge Picciani (MDB) para basear a denúncia contra ele e outros membros da Assembleia Legislativ­a do Estado. SÃO PAULO Um dos Estados que mais receberam casos, São Paulo (28 inicialmen­te), ainda não apresentou denúncias.

Até este ano, o Estado tinha quatro procurador­es analisando os casos em uma força-tarefa que não era exclusiva da Lava Jato —como no Paraná— e desde setembro tentava expandir o número de membros.

Em ofício enviado ao Conselho Superior do Ministério Público, dizia que a ampliação era necessária “em razão da crescente e notória demanda relacionad­a ao tema em questão, notadament­e em relação à magnitude das investigaç­ões existentes sobre o tema em São Paulo”.

O pedido foi atendido no último dia 6 de fevereiro, quando foram integrados mais sete integrante­s ao grupo. MUDARAM DE ÓRGÃO

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