Folha de S.Paulo

Esquerda e direita disputam espaço no comércio virtual com produtos que estampam bordões políticos

- DANIEL LISBOA

FOLHA

“Pelo fim da cultura mimimi”, “É só você não matar/roubar/estuprar/sequestrar que tu não vai preso, p...!” e “Bolsonaro Honra/Moral/Ética.”

Camisetas com essas frases estampadas são as primeiras que aparecem a quem acessa a loja on-line “Direita Store”. Mas o site oferece pelo menos outros 15 modelos. Há até versão para bebês.

Ela é apenas uma das muitas lojas virtuais, de direita e de esquerda, voltadas para quem quer expor suas posições políticas no peito.

“Eu tinha uma loja voltada ao público geek que não estava indo bem. Como eu não queria que o negócio morresse, e sou um cara engajado politicame­nte, comecei a fazer produtos voltados ao público de direita”, diz José Leão Sousa, criador da “Direita Store”.

Deu certo, e desde o final de 2016, Sousa, 32, de Barueri (SP), foca apenas seu novo público. Hoje, uma empresa terceiriza­da produz as cerca de dez camisetas vendidas por dia. Sousa dedica 70% de seu tempo ao negócio e ainda é o responsáve­l por desenvolve­r estampas como “Olavo tem razão” (referência ao filósofo conservado­r Olavo de Carvalho) e Ustra vive (que exalta o Coronel Brilhante Ustra, chefe do órgão de repressão DOI-Codi paulista durante a ditadura militar).

Sousa diz não temer eventuais problemas na Justiça pelo fato de exaltar uma figura associada à tortura.

“As acusações de tortura contra o Ustra foram feitas por pessoas nas quais exames de corpo de delito não encontram uma marca”, afirma. “Na infância, cortei o pé na bicicleta e tenho uma marca até hoje. Aí tem gente como a Dilma Rousseff, que diz ter sofrido tortura e tem a pele mais limpa que a minha.”

Outra loja virtual voltada ao público de direta é a “Camisetas Opressoras”, mantida pelo casal Denise Amaral, 27, e Wilker Amaral, 32, de Caçapava (SP). Eles não revelam as vendas, mas dizem que as camisetas com referência­s ao deputado Jair Bolsonaro são, disparadas, as campeãs.

O site vende camisetas estampadas com frases como “Em nome da moral e dos bons costumes”, “Machista & Fascista & Opressor, só não chamam de corrupto” e, assim como a “Direita Store”, “Ustra vive”.

À esquerda, a loja “Eu Não Me Calo” vende camisetas com estampas como “Manas em luta”, “A saída é pela esquerda” e “Ocupar, resistir e não se calar”.

Sua proprietár­ia, Carla Magalhães, 33, explica que sentiu a necessidad­e de criar camisetas para pessoas que não são vinculadas a nenhum movimento ou partido político.

“Olhei no meu guarda-roupa e não vi uma camiseta que não tivesse o nome de uma organizaçã­o ou partido político”, conta a advogada, que militou por dois anos no grupo de esquerda Brigadas Populares em Belo Horizonte.

A maior parte de suas vendas acontece não por meio do site, mas em eventos como o Congresso da União Nacional dos Estudantes. Ela criou a loja on-line há cerca de um ano

Já o carioca Victor Serebrenic­k, 31, é responsáve­l pelo site “Camisa Crítica”.

A loja virtual existe há três anos e Victor, mestrando em História, cria e vende camisetas com referência­s ao movimento zapatista, à Revolução Cubana, à União Soviética e aos curdos, entre outros modelos.

“Tem conhecido que pede para eu fazer camiseta dizendo ‘Lula roubou meu coração’. Mas essas discussões do momento não são a minha pegada”, afirma.

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Reprodução Modelos de camisetas vendidas nas páginas das lojas de esquerda “Eu Não Me Calo” e de direita “Direita Store”

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