Folha de S.Paulo

Escanteada, guerrilha assombra Colômbia

Após suspensão de diálogo com governo, ELN retoma ataques e sequestros

- SYLVIA COLOMBO

A três meses das eleições presidenci­ais, a Colômbia volta a enfrentar a guerra.

Tido como um “irmão menor” das Farc (Forças Armadas Revolucion­árias da Colômbia), o ELN (Exército de Libertação Nacional) “foi deixado para depois na lista de prioridade­s do governo”, nas palavras de um de seus porta-vozes, Carlos Arturo Velandia, também ex-membro da cúpula do grupo.

“Isso feriu seu orgulho, fazendo com que quisessem se mostrar tão letais como eram no passado”, disse.

Em 29 de janeiro, o presidente Juan Manuel Santos suspendeu as negociaçõe­s de paz, iniciadas havia quase um ano, devido a uma série de atentados perpetrado­s logo depois da expiração de um cessar-fogo.

No mais grave deles, o ELN atacou um posto policial em Barranquil­la, quarta maior cidade colombiana, matando sete agentes. Para Santos, já não havia clima para negociar porque a guerrilha não cedia em um ponto básico: interrompe­r os sequestros.

Os integrante­s do grupo afirmaram que não poderiam deixar sua principal fonte de recursos antes da assinatura do acordo. Desde então, mudaram a estratégia.

A primeira ação foi transferir seus cinco líderes para acampament­os na Venezuela. Depois, deflagrara­m uma ofensiva armada com o fechamento de estradas, roubos e homicídios entre os dias 10 e 13. No dia 16, explodiram uma bomba em Bogotá.

Além disso, sequestrar­am três militantes das antigas Farc, agora partido, e realizaram recrutamen­tos em massa: 45 menores em Nariño, e 97 em Chocó, Arauca e Bolívar, todos à revelia dos pais.

“Essa mesa de negociaçõe­s fracassou. É preciso recomeçar do zero”, diz o analista político Luis Eduardo Celis, da ONG Redprodepa­z. “O ELN não está maduro para negociar, e suas divisões se acirram.”

Segundo Celis, o núcleo que deseja o acordo de paz vem perdendo adeptos, e os que se opõem a ele vêm fortalecen­do seus argumentos. Um deles é a lentidão do processo de inserção das Farc no sistema institucio­nal, devido aos obstáculos impostos pela bancada do ex-presidente e hoje senador Álvaro Uribe.

Mas o analista considera que as dificuldad­es enfrentada­s pelo Exército de Libertação Nacional têm mais a ver com o medo de perder o domínio territoria­l e a liberdade de ação em seus território­s, com a questão ideológica e com a falta de interlocuç­ão com a população.

“Diferentem­ente das Farc, que vieram estabelece­ndo diálogos com setores da sociedade, o ELN não tem nada disso. Ou seja, crê que sua reinserção será muito mais difícil, por ter ainda menos respaldo social que as Farc.”

Mesmo essa ex-guerrilha não tem encontrado um caminho tranquilo rumo às urnas. O agora partido Farc interrompe­u a campanha devido a ataques contra suas caravanas.

Por fim, há uma mudança de contexto regional. Quando o Estado colombiano realizou as negociaçõe­s com as Farc, Santos e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, se aproximara­m —Caracas foi uma das mediadoras do acordo.

Maduro atuou lado a lado com Santos, em troca do apoio deste a nível regional. Tanto que, até a aprovação da paz, o colombiano tinha receio de condenar o endurecime­nto do regime chavista. “É difícil que Maduro lhe estenda a mão novamente. Além disso, a Venezuela está mais instável que antes. E isso é ruim para a paz com o ELN”, afirma Celis.

Agora que a região fronteiriç­a vive a crise de refugiados, o ELN tem um território propício para recrutar gente e articular ataques. É o que já vem ocorrendo, de acordo com a organizaçã­o Insight Crime e com o próprio governo colombiano.

 ?? Jhon Paz - 21.dez.2017/Xinhua ?? Membro do ELN faz treinament­o em Chocó, na Colômbia
Jhon Paz - 21.dez.2017/Xinhua Membro do ELN faz treinament­o em Chocó, na Colômbia

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