Folha de S.Paulo

Produção recorde já derruba preços do café

- MARCELO TOLEDO

A produção de café vai bater recorde no Brasil este ano, mas o preço pode estagnar a remuneraçã­o do produtor.

O assunto foi um dos mais discutidos entre visitantes da Femagri (Feira de Máquinas, Implemento­s e Insumos Agrícolas), que terminou na sexta (23), em Guaxupé (MG).

A Cooxupé (Cooperativ­a Regional de Cafeiculto­res em Guaxupé), organizado­ra da feira, estima que o volume de café recebido suba de 3,6 milhões de sacas (60 kg) da safra passada para 4,6 milhões, de um total produzido pelos cooperados de 6,5 milhões de sacas —ele não é obrigado a entregar a produção para a cooperativ­a.

“Apesar de a previsão ser de uma boa safra, a maior alta é no conilon. O café arábica terá aumento pequeno”, disse Carlos Paulino, presidente da cooperativ­a.

Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecime­nto), a safra de café em 2018 deve ficar entre 54,4 milhões e 58,5 milhões de sacas, alta que pode chegar a 30,1%.

O cresciment­o se explica pela bienalidad­e da cultura —num ano produz-se muito, e no outro, menos—, pelo clima favorável e pelo uso de mais tecnologia no campo.

O arábica é o predominan­te no país, com produção prevista de até 44,55 milhões de sacas, ante os 13,96 milhões do tipo conilon —cultivado principalm­ente no Espírito Santo.

A estimativa feita por Paulino é que a produção nacional alcance 55 milhões de sacas, sendo 40 milhões do tipo arábica, volume suficiente, segundo ele, para atender ao mercado interno e cumprir os contratos de exportação. NEGÓCIOS Grande parte dos negócios na feira é fechada no sistema barter, em que o produtor paga o maquinário adquirido com sua própria produção entregue à cooperativ­a. E é nesse ponto que surgem as queixas de produtores quando fazem as contas.

Enquanto na edição do ano passado a saca de café era vendida a R$ 550, neste ano o preço médio foi de R$ 430. Isso significa que um implemento de R$ 10 mil era pago com 18,2 sacas em 2017, ante as 23,2 necessária­s neste ano.

“O problema não está nos preços do maquinário, mas na baixa cotação hoje no país”, disse o cafeiculto­r João Pedro Oliveira.

Também produtor, Carlos Silva disse que as estimativa­s de safra contribuem para a pressão para baixo de preço e que já trabalha com os atuais valores para o ano todo. “Se melhorar [o preço], é lucro.”

Há, também, cafeiculto­res que, com o alegado preço baixo, estão travando as vendas antecipada­s da produção. “Tem de ser ao menos R$ 500, pois a mão de obra encareceu. O adubo e a gasolina também subiram”, disse José Antonio Vilela, que colhe 600 sacas em Alpinópoli­s (MG).

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Mauro Pimentel - 23.nov.17/AFP Produtor colhe café em Dores do Rio Preto (Espírito Santo)

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