Folha de S.Paulo

Da política.

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O governo de Michel Temer “não conseguiu atingir um grau de popularida­de minimament­e razoável”, e o grupo do MDB que lhe dá sustentaçã­o “não tem nenhuma credibilid­ade da sociedade”.

A afirmação é do presidente do IDV (Instituto para Desenvolvi­mento do Varejo), Antonio Carlos Pipponzi, que, no entanto, reconhece os méritos da atual gestão. “Conseguiu promover a reforma trabalhist­a. Teve uma marca, que foi recolocar a economia na direção certa.”

O empresário, que também é presidente do conselho da Raia Drogasil, maior rede de farmácias do país, diz que o Brasil precisa de um estadista na presidênci­a para modernizar as instituiçõ­es, apesar de reconhecer a ausência de lideranças. “De onde vamos tirar um bom político agora? Não sei”, diz Pipponzi. é entender o que se quer fazer. [Quando o anúncio foi feito], eu recebi mensagens de associados do IDV preocupado­s. Isso vai ser equilibrad­o? Por outro lado, vemos com bons olhos o cadastro positivo. O sr. concorda com a entrada de empresário­s na política?

Vou repetir uma frase que ouvi num encontro em que estava o João Doria, e ele tinha acabado de se eleger. Um empresário disse a ele: “Você tem que ser bom administra­dor e bom político. Administra­ção você delega. Política, não”. No momento em que o país precisa de sintonia entre Executivo e Legislativ­o, e não tem um Congresso ideal, um grande político faria a diferença.

De onde vamos tirar um bom político agora? Não sei. Mas tem de ter alguém com visão de país. Até porque não tem um projeto na lista de prioridade­s do Brasil que não seja impopular. A reforma tributária, por exemplo, mexe no calo de todo o mundo. O país precisa de remédios amargos. Mas como ele vai entrar para a história?

Com essa base que ele tinha, ele conseguiu promover a reforma trabalhist­a, que foi importante. Teve a marca de recolocar a economia na direção certa. Ninguém poderia esperar que uma taxa de inflação de 10% baixasse para perto de zero, nem que uma taxa de juros de 11% ou 12% fosse a 6%. Nem que a economia retomasse, embora em níveis baixos, em tão pouco tempo. Isso tudo é um mérito da equipe econômica. E foi o Temer que colocou a equipe econômica lá.

Eu jamais vou aprovar os métodos da política de hoje. Jamais vou aprovar a base que o Temer tem hoje. Mas esse é o sistema, e alguém tem de transforma­r isso. Mas não dá para transforma­r o sistema se não tiver uma experiênci­a política. É difícil. Por isso, não dá para a gente simplesmen­te pensar que o país precisa de um grande administra­dor e excluir o político.

Eu gostaria de ter alguém capaz de reunir as duas coisas. Poderia ser um Olavo Setúbal. Ele era alguém que tinha um trânsito político e era um empresário dos mais admiráveis. O Magazine Luiza já disse que não se expande para o Rio por causa da violência. Que tipo de impacto o varejo todo vem sentindo no Estado?

A gente tem de fazer um desabafo. Passamos situações complicada­s no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, na Bahia e no Rio Grande do Norte, como fechar as lojas mais cedo. Sofremos com as greves de polícia. O que acontece quando o Estado não controla a segurança? O comércio tem que fechar as portas.

Hoje, se você vai expandir no Rio, pensa bem: ‘Eu estou seguro para transferir gente para lá?’. Não é simples.

Além disso, o custo que as empresas têm para monitorar seus centros de distribuiç­ão, lojas e o transporte é alto. E quem paga esse custo é o consumidor. Na empresa de varejo, uma das maiores contas é a segurança. Isso se reflete em aumento de preços.

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