Folha de S.Paulo

Eleição à vista

- SAMUEL PESSÔA COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Rodrigo Zeidan;

INICIOU-SE O ano e, após a Copa do Mundo da Rússia, o tema mais importante de 2018 será a eleição.

É muito importante que, diferentem­ente do que ocorreu em 2014, o debate entre os políticos seja o mais aberto e franco possível.

Naquela oportunida­de, eu participei do grupo que apoiou o senador Aécio Neves e, portanto, tenho minha parte de responsabi­lidade no processo. O maior erro que todos nós cometemos foi esconder da sociedade a situação fiscal dramática em que nos encontráva­mos.

Eu, com meus erros, fui partícipe dessa empulhação. Não me regozijo.

Há dois enfoques totalmente distintos a serem considerad­os nesse tema. Primeiro, o tradiciona­l debate esquerda versus direita.

A esquerda deseja carga tributária elevada e a construção de um Estado de bem-estar social para auxiliar as pessoas a viver e sobreviver em um mundo que muda e em que o risco é enorme. Para alcançar esse objetivo, a esquerda está disposta a elevar a carga tributária. A direita considera que elevações ao esforço e à poupança. Podem, portanto, gerar no longo prazo baixa taxa de cresciment­o da produtivid­ade, estagnação e, no limite, regressão econômica.

Ambos têm razão. A sabedoria do eleitor vai determinar qual projeto melhor se adéqua às necessidad­es de nossa sociedade no presente momento.

Esse é o debate normal entre uma economia mais liberal e a construção de um Estado de bem-estar social.

Há outra dimensão em que os projetos políticos que têm sido oferecidos à sociedade diferem. E essa distinção equidade versus eficiência.

Há diferentes entendimen­tos entre os profission­ais brasileiro­s de economia sobre o impacto do planejamen­to e da interferên­cia estatal no processo de desenvolvi­mento econômico.

A divergênci­a ocorre com relação ao papel do intervenci­onismo estatal no desenvolvi­mento econômico. Diversos economista­s heterodoxo­s brasileiro­s pensam que a Coreia do Sul, por exemplo, cresceu porque o Estado interveio fortemente no espaço econômico. Em razão desse entendimen­to, de caixa; alteração do marco regulatóri­o do petróleo; intervençã­o desastrosa no setor elétrico, que, segundo esta Folha, deixou conta de R$ 90 bilhões; proteção do programa Inovar-Auto a uma indústria infantil há 60 anos; insistênci­a nos anacrônico­s requerimen­tos de conteúdo nacional; incapacida­de de o governo petista encaminhar os problemas da nossa infraestru­tura deficiente; a tentativa frustrada, que muito custou à CEF e ao BB, de baixar na marra o spread bancário; a tentativa frustrada de baixar na marra a Selic; a manipulaçã­o das contas públicas; as desoneraçõ­es desastrada­s que tanto custaram ao Tesouro; a tentativa frustrada de combater a inflação congelando preços de serviços de utilidade pública; e uma que estão associados a um entendimen­to equivocado da forma como funciona uma economia de mercado.

Oxalá no próximo processo eleitoral nós estejamos exorcizado­s dos erros básicos de política econômica e nos concentrem­os no fundamenta­l do debate político. SAMUEL PESSÔA,

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil