Folha de S.Paulo

Aquisição e uma revisão de tudo que está guardado a cada seis meses.

- JÚLIA ZAREMBA

DE SÃO PAULO

Se um objeto ou peça de roupa está guardado há mais de dois anos no armário, é hora de passá-lo adiante. Mesmo que seja novo ou esteja dentro da validade.

“Temos o hábito de doar só o que não está em boas condições de uso”, afirma a organizado­ra Ingrid Lisboa, da Home Organizer. “Em vez disso, devemos retirar de casa itens em bom estado que não usamos mais.”

A tolerância é um pouco maior para vestidos de gala, casacos pesados, jogos de jantar e outros objetos usados de forma esporádica. Desde que haja, de fato, a intenção de usá-los novamente — não é porque tem qualidade e custou caro que deve virar peça de museu.

“As pessoas costumam comprar coisas novas em vez de recorrer ao que está no fundo do armário”, diz Mylena Abujamra, da empresa A Gente Organiza.

Outro sinal de que é hora de doar objetos é a falta de espaço. “Quando um lugar não atende mais às necessidad­es dos moradores e eles precisam criar novas áreas para armazenage­m de itens, significa que a situação está fugindo do controle”, afirma Claudia Pilli, da OrdenArte.

Para se prevenir contra o caos, a organizado­ra Ana Paula Vanzan, da Espaço Ordenado, recomenda a doação de uma coisa velha a cada nova SEM ARREPENDIM­ENTO O processo de se livrar de itens pessoais exige paciência e disposição emocional para lidar com lembranças. Mas algumas táticas tornam a prática mais fácil.

O primeiro passo é questionar a utilidade daquele item e por que está guardado. “As pessoas confundem gostar com usar. Depois de três ou quatro perguntas, as justificat­ivas para manter algo se desmontam”, diz Lisboa.

A empresária Priscila Guedes, 34, decidiu limpar o armário do seu antigo quarto, na casa dos pais, em dezembro depois de perceber que não precisava mais das peças —algumas guardadas desde os seus 15 anos. Em três dias, encheu oito caixas de mudança com calças, blusas, moletons e outros itens.

“A parte mais difícil foi pensar que nunca mais veria as roupas”, conta. Outro desafio foi convencer a mãe a desapegar. “Manter o armário cheio era uma forma de ela continuar ligada a mim.”

Na hora de separar o que vai e o que fica, é preciso ter calma. O indicado é organizar um espaço do armário ou do cômodo de cada vez, sem desistir no meio da tarefa.

Caso haja muitas dúvidas sobre a doação de alguns itens, uma dica é juntá-los em uma “caixa da indecisão”. Se não for aberta em até seis meses, significa que é hora de abrir mão dos objetos, afirma Rafaela Oliveira, do blog Organize sem Frescuras.

Em último caso, vale tirar uma foto do item pelo qual existe um grande apego antes de doá-lo. “Assim, ele poderá ser guardado, mas sem ocupar espaço”, diz Oliveira.

E, em vez de focar no que está saindo, o segredo é se concentrar no que está ficando. “Que é o que a pessoa usa, gosta e a faz feliz”, diz Lisboa. ALÉM DO LIMITE O hábito de guardar coisas e a dificuldad­e de se desfazer de um objeto podem sair do controle e virar doença.

“A acumulação é um transtorno quando a pessoa tem a necessidad­e de acumular mesmo que os objetos não tenham valor”, explica Marcelo Alves dos Santos, professor de psicologia da Universida­de Presbiteri­ana Mackenzie. “É diferente de colecionis­mo, quando há um apreço pelos itens guardados.”

Segundo Santos, 4% a 7% da população sofre desse transtorno, chamado de disposofob­ia, que pode estar ligado à ansiedade e à depressão. A maior prevalênci­a é em mulheres de meia idade, diz Fátima Vasconcell­os, da diretoria da Associação Brasileira de Psiquiatri­a.

Caso algum familiar não consiga doar objetos acumulados, é hora de acender o alerta vermelho. Quanto antes for diagnostic­ado, maiores as chances de cura.

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