Folha de S.Paulo

Fantasma de volta

Descoberta de contas secretas associadas a ex-chefe da Dersa constrange tucanos e impõe a procurador­es obrigação de elucidar destino do dinheiro

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O engenheiro Paulo Vieira de Souza, que trabalhou para o governo do Estado de São Paulo por cinco anos e deixou suas funções há quase uma década, voltou a assombrar os políticos a que serviu.

Conhecido como Paulo Preto, dirigiu a Dersa, estatal que construiu grande parte do sistema rodoviário paulista, e foi apontado por executivos de três empreiteir­as como responsáve­l pelo desvio de milhões de reais dos cofres estaduais para campanhas do PSDB.

Veio à tona agora a informação de que a Suíça comunicou às autoridade­s brasileira­s a existência de contas secretas associadas a Souza, que teriam movimentad­o o equivalent­e a impression­antes R$ 113 milhões. O dinheiro seria controlado por uma empresa no Panamá e estaria agora nas Bahamas.

Falta comprovar o vínculo do engenheiro com as contas, mas a notícia é no mínimo embaraçosa para os tucanos. O governador Geraldo Alckmin, que se prepara para representa­r o PSDB na corrida presidenci­al deste ano, foi quem nomeou Souza em 2005, quando estava em seu segundo mandato.

O senador José Serra, que sucedeu Alckmin no cargo, e o atual ministro Aloysio Nunes Ferreira (Itamaraty), chefe da Casa Civil no governo Serra, são alvos de inquérito no Supremo Tribunal Federal para examinar suas relações com o engenheiro e as empreiteir­as que fizeram negócios com ele.

Fala-se com desconfian­ça de Paulo Preto desde a eleição presidenci­al de 2010, quando Serra foi o candidato do PSDB e a atuação do ex-chefe da Dersa deu munição para seus adversário­s. Todos sempre negaram irregulari­dades, e o suposto operador disse à Polícia Federal que empreiteir­os mentiram sobre ele em suas delações.

Caberá às autoridade­s esclarecer as contradiçõ­es entre Paulo Preto e seus acusadores, além de investigar o caminho do dinheiro para saber quem foram os beneficiár­ios das contas localizada­s na Suíça.

Será boa oportunida­de também para elucidar outro mistério: a maneira tortuosa como o Ministério Público Federal vem conduzindo várias frentes de investigaç­ão abertas sobre o engenheiro.

As informaçõe­s recebidas da Suíça foram anexadas no ano passado a um processo secundário em que ele é réu em São Paulo, e não ao inquérito que corre no Supremo.

Em 2013, esta Folha revelou o caso espantoso de um procurador da República que deixou esquecido por três anos numa pasta um pedido da Suíça para investigar funcionári­os do governo paulista que teriam recebido propina da multinacio­nal francesa Alstom. A Suíça cansou e desistiu da investigaç­ão.

Espera-se que o caso de Paulo Preto não tenha igual desfecho. BRASÍLIA

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