Folha de S.Paulo

Quebra de monopólio

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BRASÍLIA - Flanqueado por rivais que ocuparam espaços tradiciona­lmente vinculados ao PSDB, Geraldo Alckmin fez nas últimas semanas sua jogada mais incisiva para recuperar o apoio do mercado e dar uma nova cara para sua desacredit­ada campanha presidenci­al.

Ao anunciar Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real, como coordenado­r de seu programa de governo, e afirmar que pretende manter Ilan Goldfajn na presidênci­a do Banco Central, o governador paulista fez um movimento à direita no debate econômico. O objetivo é neutraliza­r o bônus que o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) tem, de saída, na disputa pelo Palácio do Planalto.

A reorientaç­ão foi uma necessidad­e diante da constataçã­o de que os tucanos não reinarão absolutos entre investidor­es e empresário­s —como estavam habituados— sob o discurso do liberalism­o e da redução do papel do Estado na economia.

Alckmin foi eclipsado nesse nicho principalm­ente pela possível candi- datura de um insider: Meirelles foi presidente de um banco internacio­nal e reza fielmente pela cartilha dos liberais. Seu nome e sua atuação prática como chefe da equipe econômica não permitiria­m, em tese, questionam­entos sobre seu compromiss­o com esse ideário.

O governador paulista, por outro lado, provocava desconfian­ça por ter, nos últimos tempos, se cercado de conselheir­os que defendiam uma intervençã­o pontual do governo na economia, como Roberto Giannetti da Fonseca e Yoshiaki Nakano.

Com a escolha de Arida e a sinalizaçã­o a Goldfajn, Alckmin tenta exacerbar um discurso liberal e quebrar o monopólio de Meirelles nessa área.

O movimento foi bem recebido por investidor­es, mas terá efeito nulo sobre o desempenho do tucano nas pesquisas —nas quais pontua, no máximo, 11%. Enquanto não encontrar uma plataforma ampla, que se conecte com o eleitor, Alckmin continuará sofrendo com as dúvidas sobre a viabilidad­e de seu nome.

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