Folha de S.Paulo

Magia urbana

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RIO DE JANEIRO - Parece filme de ficção científica ou livro de fantasia e magia: uma rua, desapareci­da havia mais de 40 anos, surge de novo no mesmo lugar.

Trata-se de um trecho da Nelson Mandela, em Botafogo, que faz a ligação entre a General Polidoro e a Professor Álvaro Rodrigues, um dos pontos mais movimentad­os do bairro. Tem 105 metros de extensão e 19 de largura. Sua recuperaçã­o, ao custo de R$ 1,2 milhão, prevê a construção de calçadas, duas faixas para carros, ciclovia, plantio de 25 árvores, instalação de postes de iluminação e —nada é perfeito— estacionam­ento com 12 vagas. Se a prefeitura conseguir honrar o compromiss­o, a nova via será reaberta até o fim do ano.

O terreno, que existiu como rua até 1975, foi transforma­do em canteiro de obras durante a construção do metrô. Ficou esquecido, até o governo estadual sugerir negociá-lo, com valor estimado em mais de R$ 55 mi- lhões. A Associação de Moradores e Amigos de Botafogo reagiu. O ressurgime­nto da rua faz pensar no quanto a cidade perdeu do seu traçado e cenário nos últimos anos. Nem é preciso voltar tanto no tempo e lembrar o morro do Castelo, arrasado em 1922, ou a praça 11 e arredores, que desaparece­ram para a abertura da avenida Presidente Vargas nos anos 1940.

O mesmo metrô, em 1976, demoliu o Palácio Monroe, na Cinelândia — um crime. O Catete sofreu uma intervençã­odrástica.Metadedavi­aprincipal no lado ímpar sumiu: sobrados do século 19, com janelas rasgadas, sacadas corridas, platibanda­s decoradas por estatuetas. Sem falar no velho Café Lamas, próximo ao largo do Machado. Na outra ponta, foi-se a Taberna da Glória. Levado por meu pai, ainda bebi ali um guaraná champanhe, no último dia de vida da Taberna.

A alma das ruas, como sabe quem leu o cronista João do Rio, é encantador­a. Mas sua existência não pode ficar só na memória. NABIL BONDUKI

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