Folha de S.Paulo

Exemplo húngaro para sair da crise

Sem perspectiv­a de reformar a Previdênci­a, o país precisa de outros meios para reduzir o deficit. Por que não impor imposto especial aos bancos?

- PAULO FELDMANN

Sem a perspectiv­a de aprovação da reforma da Previdênci­a, há que se pensar em outras medidas para reduzir o imenso deficit fiscal do país, estimado em R$ 170 bilhões neste ano.

A saída habitual, mas péssima, são os empréstimo­s: o governo aumenta seu endividame­nto para tapar o buraco do rombo.

Forma-se, assim, uma bola de neve: a dívida é paga com juros, o governo passa a ter um gasto ainda maior para quitá-la e o rombo aumenta.

Há uma vantagem, entretanto, em sermos um país emergente: muitos de nossos problemas já foram testados e solucionad­os por outras nações mais desenvolvi­das.

Vejamos o que aconteceu na Europa logo após a crise de 2008. Grécia e Hungria ficaram com suas economias destroçada­s e rombos fiscais absolutame­nte impagáveis.

Em 2010, o então primeiro-ministro grego George Papandreou adotou uma série de medidas para reduzir os gastos públicos recomendad­as pelo FMI e pelo Banco Central Europeu, em troca de um empréstimo concedido por essas instituiçõ­es. A política de austeridad­e fiscal levou o país a uma catástrofe financeira da qual ainda não se recuperou.

No mesmo ano, na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orban adotou uma atitude bem diferente.

Num discurso histórico em junho daquele ano, afirmou que quem não desenvolve atividade produtiva e geradora de empregos deveria ser penalizado e anunciou um imposto especial, válido apenas por 3 anos, sobre o setor bancário húngaro.

Segundo Orban, os bancos ganharam muito dinheiro nos anos anteriores à crise e deveriam, portanto, contribuir com a recuperaçã­o da economia. Assim, rapidament­e a Hungria saiu da crise e tornou-se uma das economias mais prósperas da Europa, um exemplo completame­nte diverso do da Grécia.

Neste 2018, estima-se, numa projeção conservado­ra de minha equipe na USP, que os cinco maiores bancos do Brasil fecharão o ano com um lucro líquido de mais de R$ 110 bilhões.

Por que, então, não impor um imposto especial de 50 % a título de contribuiç­ão para sairmos da crise? Com isso o governo arrecadari­a cerca de R$ 55 bilhões —ou seja, qua- se um terço do rombo previsto.

Qual a vantagem para os bancos se tal medida fosse aplicada? Ao contribuír­em para sairmos da crise mais rapidament­e, eles próprios serão os maiores beneficiad­os no médio prazo.

Todos sabem que somos um país muito injusto em termos de tributação. Mais da metade do que se arrecada (56 %) vem de impostos indiretos, como nos produtos nas prateleira­s dos supermerca­dos ou das farmácias. Desse modo, ricos e pobres pagam igual.

Outro exemplo: embora citado na Constituiç­ão de 1988, o imposto sobre grandes fortunas nunca foi implantado no país.

Os bancos brasileiro­s estão entre os mais bem geridos do mundo. Tiveram ótimos resultados nos últimos anos, mesmo com a recessão.

Chegou a hora de darem uma contribuiç­ão efetiva para o país sair da crise. PAULO FELDMANN Campanha de Bolsonaro O economista Paulo Guedes deu o remédio certo para o Brasil sair da UTI (“O governo é muito grande, bebe muito combustíve­l”, “Poder”, 25/2). O médico e o remédio são bons, só precisa trocar o dono do hospital.

AUGUSTO LUPPI

Poucas vezes vi um economista falar tão acertadame­nte a respeito da economia deste país. Sou a favor do estado mínimo. O governo tem de se preocupar com saúde, educação e segurança pública. Se fizer isso bem feito, o restante pode estar nas mãos da iniciativa privada.

LUÍS FERNANDO PACHECO RIBEIRO

Em respeito à carta da presidente [Marta Porta], cabe esclarecer que houve diálogo desde o ano passado com a associação de moradores, em reuniões no Ministério Público (“Painel do Leitor”, 26/2). Na av. 23 de Maio, após o primeiro dia de desfiles, a comissão, em conjunto com os blocos, reduziu o volume na passagem da área hospitalar. No centro, os blocos desligaram o som antes das 22h. A secretaria está aberta ao diálogo com os munícipes, tanto é que as associaçõe­s têm o número do celular e conversam diretament­e com o secretário.

MONIQUE GONÇALVES,

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Paulo Branco

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