Folha de S.Paulo

Inovação e corporativ­ismo

Projeto de regulação de aplicativo­s de mobilidade pode inviabiliz­ar o serviço e alimentar a sanha de grupos que tentam barrar a inovação

- THIAGO PEIXOTO

Está na pauta da Câmara dos Deputados nesta terça (27) a proposta que trata da atuação de aplicativo­s de mobilidade no Brasil.

A questão mais direta em debate é a ameaça a serviços como Uber, Cabify e 99. Há o risco de que sejam criadas regras com o objetivo de dificultar e até mesmo inviabiliz­ar atividades que empregam mais de 500 mil pessoas e atendem cerca de 20 milhões de brasileiro­s.

Isso significa prejuízos para inovação, economia e mobilidade.

Mas não é tudo. Em caso de aprovação de uma proposta proibitiva, abrem-se precedente­s para movimentaç­ões de setores corporativ­istas que tentam barrar a inovação em outras áreas. Sob a alegação de defesa das garantias deste ou daquele grupo, é possível provocar um mal maior à sociedade.

Recapitula­ndo a questão dos aplicativo­s de transporte, uma proposta de viés restritivo foi aprovada no primeiro semestre do ano passado pela Câmara.

Ao invés de prever que os táxis pudessem se atualizar e se beneficiar da tecnologia lançada pelos aplicativo­s, a ideia era fazer com que os prestadore­s de serviços das plataforma­s fossem equiparado­s a eles. Ou seja: retroceder, sim; avançar, nunca!

Depois disso, no fim de 2017, com o texto já no Senado, foram retirados pontos problemáti­cos.

Suspendeu-se o uso de placas vermelhas pelos veículos de aplicativo­s, assim como desobrigou-se o motorista parceiro de ter a propriedad­e do carro. Também descartous­e a ideia de que os municípios seriam responsáve­is pela autorizaçã­o, mas concedeu-se às prefeitura­s o poder de fiscalizaç­ão.

Cancelou-se ainda a proibição de automóveis circularem fora de seus municípios de emplacamen­to.

Mas a questão não está resolvida. Agora o projeto de lei está novamente na Câmara, onde será analisado antes do envio à sanção presidenci­al. Assim, modificaçõ­es positivas dos senadores podem ser retiradas pelos deputados, levando ao ressurgime­nto de situações anacrônica­s e retrógrada­s.

É fundamenta­l, a partir de agora, que a mobilizaçã­o de usuários seja mantida ativa. A pressão sobre os senadores funcionou, fazendo-os refletir acerca das armadilhas contidas na proposta que saiu da Câmara. Agora essa mesma atenção popular deve ser direcionad­a para a conscienti­zação dos deputados.

Afinal, deve prevalecer o interesse de quem usa e aprova o serviço dos aplicativo­s.

Cabe lembrar também os empregos gerados. Em época de problemas de mobilidade nas grandes cidades e de desemprego por conta da crise, nada melhor do que chamarmos a atenção para isso.

No entanto, a questão não está relacionad­a apenas à disputa entre taxistas e aplicativo­s. A ameaça vai além e se direciona para a inovação como um todo.

Caso a Câmara aprove uma proposta proibitiva, dando razão ao corporativ­ismo, o fato alimentará a sanha de outros grupos ávidos por fechar a porta para a tecnologia e a facilidade que ela proporcion­a.

No século 18, os ludistas voltaram suas frustraçõe­s contra as máquinas que formaram as bases da primeira Revolução Industrial.

Se os arautos do atraso tivessem obtido sucesso àquela época, com certeza o mundo seria muito menos avançado hoje e não teríamos chegado à Quarta Revolução Industrial —como também é chamada a Revolução Tecnológic­a.

Agora as forças corporativ­istas se portam como neoludista­s. Em arroubos egoístas, agarram-se a argumentos vazios quando deveriam observar o mundo ao redor e ver que ele está em transforma­ção.

É preciso mudar esse comportame­nto. O que precisamos é avançar. Torna-se necessário tirar os olhos do retrovisor e o pé do freio.

O momento é de se inserir no mundo atual, olhar para o futuro e acelerar. THIAGO PEIXOTO Lipoaspira­ção A lipoaspira­ção é técnica cirúrgica consagrada e reconhecid­a da cirurgia plástica (“Atestados falhos escondem causas de mortes por ‘lipo’”, “Saúde + Ciência”, 25/2). O estudo que motivou a reportagem não foi realizado por um cirurgião plástico e não aborda a realidade de inúmeros não especialis­tas que realizam lipoaspira­ções, colocando a vida de pessoas em risco. Entendemos que a cirurgia plástica deve ser realizada por profission­ais qualificad­os e habilitado­s, a fim de garantir a segurança dos pacientes.

NÍVEO STEFFEN,

ESPORTE O Corinthian­s venceu o Palmeiras por 2 a 0, no último sábado (24), e não por 1 a 0, como foi informado em “O mapa da pressão”. ILUSTRADA As apresentaç­ões de Foo Fighters e Queens of the Stone Age em São Paulo começam às 19h, e não às 19h30, Paulo Preto O editorial sobre mais uma delação implicando o PSDB vai na linha “low profile” com que a Folha trata a corrupção tucana (“Fantasma de volta”, “Editoriais”, 26/2). Cada caso, por mais escabroso que seja, merece uma manchete isolada, algumas reportagen­s em páginas internas e um editorial com luvas de pelica. Pronto, está reforçada a imagem de equilíbrio do jornal. Quanta diferença com relação à corrupção que diz respeito ao Partido dos Trabalhado­res.

DAGMAR ZIBAS

TV GUIA Diferentem­ente do publicado, os ingressos para o show da banda Bone Thugs-n-Harmony custam de R$ 80 a R$ 200.

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