Folha de S.Paulo

Parcelado sem juros tem de ser transparen­te, afirma Ilan

Não há plano de acabar com modalidade de crédito, diz presidente do BC, mas lojista tem de informar de forma clara custos embutidos

- FLAVIA LIMA

Na queda de braço entre lojistas e credenciad­oras de cartão (as donas das maquininha­s), o Banco Central mandou um recado nesta segunda (26): o lojista pode continuar oferecendo o parcelado sem juros, desde que fique claro o custo da operação. O parcelado sem juros leva esse nome, mas os custos acabam embutidos no preço final cobrado do consumidor.

“Se coloca que nós queremos acabar com o financiame­nto ao lojista. De jeito nenhum”, disse o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em evento na Câmara Espanhola, em São Paulo. O que o BC deseja, disse, é acabar com a ideia de que há algo sem juro, em especial no Brasil, onde a taxa ainda é alta se comparada a outros países.

O BC, disse Goldfajn, estuda com empresas de cartões e lojistas como mexer no sistema para reduzir distorções e subsídios cruzados.

“O lojista pode parcelar, tudo continua valendo, mas tudo tem custos e precisa ser endereçado de alguma forma”, disse. Goldfajn afirmou que o BC ainda não decidiu o que fazer com o parcelado sem juros do cartão porque “as soluções não são fáceis”.

Grandes credenciad­oras de cartões (cujos donos são os grandes bancos) estudam uma alternativ­a ao parcelamen­to sem juros.

Elas propõem um produto novo com taxas diferencia­das segundo o perfil do cliente. Dessa forma, assumiriam o financiame­nto ao consumidor, hoje feito pelo lojista.

Em troca, o pagamento ao lojista, hoje feito em 30 dias, poderia ser antecipado.

O setor, porém, não chegou a um acordo. Há o temor de que os bancos concentrem muito poder em toda a cadeia —de donos da maquininha a financiado­res do consumidor.

Outro ponto de atenção é que a mudança poderia abalar fonte importante de receita para as credenciad­oras menores: a antecipaçã­o do pagamento ao lojista, já que este passaria a receber pela compra em menos dias.

No esforço para reduzir o custo do crédito, o presidente do BC defendeu o incremento de empréstimo­s feitos com garantia, como hipotecas e o consignado, cuja garantia é o salário. BANQUEIRO No evento, Goldfajn não escapou de críticas da plateia aos juros ainda altos do Brasil, arbitrados, segundo disseram, por um BC presidido por um “banqueiro”.“Em primeiro lugar, deixa eu colocar os pingos nos ‘is’. O BC determina a taxa básica da economia, e isso não depende da vontade das pessoas”, disse.

Seria preciso combater a ideia de que as coisas dependem de voluntaris­mo, disse.

“Fui economista-chefe [do Itaú] e vendi todas as minhas ações quando sai.”

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Ueslei Marcelino - 10.jan.18/Reuters O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, em Brasília

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