Boeing recomenda ‘forte cautela’ sobre acordo com Embraer
Em meio a negociação, empresa americana volta a minimizar a aquisição da brasileira
A fabricante americana Boeing recomendou “forte cautela em relação a especulações acerca de nossas intenções e do andamento das discussões” sobre a compra da parte de aviação civil da brasileira Embraer.
A frase foi dita à Folha pelo vice-presidente global de Comunicação da empresa, Phil Musser. “Acreditamos que a combinação com a Embraer representa um ganhaganha para todas as partes e que irá produzir crescimento e oportunidades. Isto dito, não se trata de algo essencial para a Boeing”, afirmou, por meio de e-mail.
Musser emula o que havia dito o presidente-executivo da Boeing, Dennis Muilenburg, na semana passada.
É uma guerra de informação usual em negócio desses: após idas e vindas, está sendo discutida a formação de uma terceira empresa com controle americano para aviação civil, deixando a área de defesa da Embraer intocada.
No domingo (25), o jornal “O Globo” publicou nota informando que o governo brasileiro havia imposto que a nova empresa tivesse 51% de controle da Boeing e 49% da Embraer e que o negócio já estava encaminhado. O comentário de Musser vai no sentido de negar isso.
O acordo pode levar meses para ser completado, e os americanos buscam um controle bem maior sobre a nova operação. Também é preciso avaliar o impacto pela troca de comando no Ministério da Defesa, embora não deva ser significativo.
O governo pode vetar questões societárias e de negócios da sua ex-estatal por meio de uma ação especial chamada “golden share”.
A preocupação central do governo é a área de Defesa, que hoje responde por cerca de 20% da receita líquida da Embraer. Vários projetos da Força Aérea estão baseados na capacidade industrial dessa divisão militar.
A Boeing queria comprar toda a Embraer. Com a negativa do governo, foi feita uma oferta apenas pela parte de aviação regional —uma lacuna para os americanos, já que esse setor em que a Embraer é líder está sendo cobiçado por sua rival europeia Airbus, que comprou a linha de jatos deste nicho da canadense Bombardier.
O governo resistiu por temer perda de capacidade tecnológica e de inovação para a área militar, além de questões de soberania centrais como o poder decisório de encomenda de novos produtos sem vetos externos.
Todos voltaram à mesa, e a proposta ressurgiu. (IG)