Folha de S.Paulo

Criminosos fogem de favelas após fim de cerco do Exército

Fuga no final de semana foi relatada por moradores de comunidade­s do Rio

- SÉRGIO RANGEL LUCAS VETTORAZZO DANILO VERPA

Saída é uma reação à movimentaç­ão das Forças Armadas na semana passada em áreas de uma facção

da Segurança do Rio evitava confrontos com os criminosos ao anunciar com antecedênc­ia a ocupação de uma comunidade para a instalação de novas UPPs (Unidadede Polícia Pacificado­ra). No período entre o anúncio e o início da ocupação, a maioria dos traficante­s fugia para outras comunidade­s.

Na ação de sexta (23), militares “ficharam” os moradores nas favelas cercadas. Eles só podiam deixar a região após passarem pelo cadastrame­nto das Forças Armadas. O procedimen­to foi criticado por entidades como OAB e Defensoria Pública.

A foto e o RG dos moradores eram enviados para um setor de inteligênc­ia das forças de segurança, que avaliavam se o identifica­do tinha algum registro criminal.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucio­nal da Presidênci­a, Sérgio Etchegoyen, defendeu a medida nesta segunda. “Não me parece ser um problema fazer isso com ninguém. Impedidas de ir e vir estão as pessoas que hoje são tiranizada­s pelo tráfico”, afirmou.

Nesta segunda (26), militares voltaram a fazer operação nas comunidade­s da Vila Kennedy, Coreia e Vila Alianças. As três são vizinhas. Segundo o Exército, a operação serviu para retirar barreiras de algumas entradas. Nesta semana, as Forças Armadas devem retornar às regiões.

Em blitz na rodovia Presidente Dutra no Rio, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 12 fuzis, 33 pistolas, 106 carregador­es, uma granada e 40 mil munições vindas de Foz do Iguaçu (PR) e que iriam para o Complexo da Maré.

FERNANDA WENZEL,

Haverá um núcleo para investigar corrupção e desvios das polícias do Rio?

Apesar de essa ser uma expectativ­a dos especialis­tas, por ora não há previsão de se criar, no âmbito da intervençã­o, um núcleo de atuação com esse objetivo específico.

Quem julga os militares em caso de suspeita de abuso?

Desde outubro passado, militares das Forças Armadas que matarem civis são julgados pela Justiça Militar. Policiais militares, diferentem­ente, são julgados pela Justiça comum.

O intervento­r pode nomear integrante­s das Forças Armadas para o comando da PM e para delegado geral do Rio?

Segundo Isabel Figueiredo, do FBSP, mesmo com a intervençã­o no Rio, vale o definido na legislação que segue em vigor. Neste caso, o intervento­r não poderia nomear um militar para a Polícia Civil, já que o cargo de chefia é para integrante­s da carreira. De acordo com a especialis­ta, interpreta­ção semelhante deveria ser aplicada à Polícia Militar. Ela afirma, no entanto, que há possibilid­ade de que o cenário atual abra uma discussão neste último caso, uma vez que, pela Constituiç­ão, a Polícia Militar é uma força auxiliar das Forças Armadas.

O que dizem o ministério e as polícias sobre isso?

Questionad­o, o Ministério da Defesa informa que a questão “está sendo avaliada e será posteriorm­ente divulgada pelo intervento­r”. Procuradas, as polícias do Rio informaram que só quem poderia responder é o Comando Militar do Leste. O comando não respondeu.

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Danilo Verpa/Folhapress Moradores observam homens das Forças Armadas no Complexo do Chapadão, na zona norte do Rio, nesta segunda (26)

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