Folha de S.Paulo

Não posso imaginar que a ideia [de aconselham­ento genético prénupcial] seja proibir estes casais de terem outros filhos, pois isto seria absolutame­nte inaceitáve­l do ponto de vista ético e moral

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durante a gestação.”

Não será disponibil­izada, porém, opção de fertilizaç­ão in vitro. De acordo com o médico geneticist­a Salmo Raskin, a alternativ­a é oferecida na rede particular por cerca de R$ 50 mil, valor que nem os planos de saúde cobrem. Trata-se de uma fertilizaç­ão em que embriões com diagnóstic­o de doença genética não são implantado­s.

Raskin questiona a falta de possibilid­ades previstas pelo ministério para as famílias que quiserem ter filhos mesmo com chance maior de enfermidad­e rara. “Quais alternativ­as serão oferecidas para os casais que tiverem, por exemplo, um risco de 25% de ter outro filho com a mesma doença genética?”, indaga. “Cabe aqui lembrar que a interrupçã­o da gestação é proibida no Brasil nestes casos.”

“Não posso imaginar que a ideia seja proibir estes casais de terem outros filhos, pois isto seria absolutame­nte inaceitáve­l do ponto de vista ético e moral.” Ele apoia a oferta do aconselham­ento em si, por assegurar ao casal uma informação importante.

A preocupaçã­o com a possibilid­ade de o aconselham­ento ser associado a uma ideia de eugenia —ou seja, de seleção baseada na genética— foi levantada pelo secretário municipal de Saúde de Campinas, Cármino de Souza, durante apresentaç­ão interna feita pelo ministério.

“O grande ponto de delicadeza desse tema é bioético”, afirma. “É preciso muito cuidado para não transparec­er que se trata de questão de eugenia ou de uma preocupaçã­o econômica”, afirma ele. PROFISSION­AIS Outro receio citado por ele é com o baixo número de médicos especialis­tas no assunto. De acordo com a própria apresentaç­ão do ministério, há apenas 372 médicos geneticist­as no país, dos quais 259 atendem pelo SUS. Desses, 51% estão no Sudeste.

O diretor da pasta diz que, diante disso, está previsto que se pague a viagem de pacientes com avaliação preliminar para outros Estados.

Segundo ele, ainda esta semana deve ser definida a data de divulgação da portaria com a política. “O ministro [Ricardo Barros] determinou que a gente faça esse programa para ontem”, diz.

A pasta aguarda, a pedido do ministro, a análise da Comissão Nacional de Incorporaç­ão de Tecnologia­s no SUS para acrescenta­r um exame, o CGT, que pode diagnostic­ar até 8.000 doenças raras por incompatib­ilidade genética.

Para a geneticist­a Mayana Zatz, do Centro de Pesquisas do Genoma Humano da USP, é positiva a oferta do aconselham­ento para os casais. Ela critica, porém, a restrição do atendiment­o aos médicos especialis­tas —para ela, uma reserva de mercado.

Segundo Mayana, há milhares de geneticist­as com outras formações que poderiam fazer o atendiment­o, condição para que o acesso à política seja assegurado.

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