Folha de S.Paulo

Novo chefe do órgão é visto como técnico

- DANIELA LIMA MARINA DIAS CAMILA MATTOSO

DE BRASÍLIA

O novo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, decidiu trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, no mesmo dia em que tomou posse no Palácio do Planalto. A PF ficará sob a tutela do delegado Rogério Galloro, hoje Secretário Nacional de Justiça.

A mudança na cúpula da corporação foi antecipada pelo “Painel”, da Folha , e pegou aliados do governo de surpresa. Tratou-se de uma jogada calculada para, ao mesmo tempo, encerrar o desgaste provocado pela escolha de Segovia e dar força política a Jungmann.

Dono de perfil mais técnico, Galloro foi o número dois da PF na gestão de Leandro Daiello, o mais longevo diretor-geral do órgão, e antecessor de Segovia.

Daiello decidiu se aposentar em novembro do ano passado, abrindo a possibilid­ade de o presidente Michel Temer escolher seu próprio comandante da PF no momento em que a Operação Lava Jato avançava sobre o coração do Palácio do Planalto — logo após a delação de executivos da JBS.

Segovia foi alçado ao cargo pelo apoio que tinha entre políticos do MDB, como o expresiden­te José Sarney e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Galloro estava em uma lista tríplice avaliada pelo presidente, mas acabou ficando para trás diante da pressão dos emedebista­s por Segovia.

Desde sua posse, porém, o agora ex-diretor da PF acumulou desgastes que o enfraquece­ram não só junto à opinião pública, mas ao Planalto, diante do Judiciário e dentro da própria corporação. Ele ficou apenas 110 dias no cargo.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, a Folha mostrou que, convidado para um prêmio da CNT (Confederaç­ão Nacional do Transporte), Segovia sentou-se à mesa do ex-senador Clésio Andrade, que preside a entidade e é réu no chamado mensalão tucano, de Minas Gerais.

Ele também foi criticado por nomear delegados com forte conexão com políticos do MDB a postos estratégic­os na polícia. A gota d’água, porém, foi a entrevista concedida à agência Reuters, na qual indicou que o inquérito que investiga Temer por suspeitas de irregulari­dades no porto de Santos (SP) deveria ser arquivado.

A declaração devolveu o caso ao centro do noticiário, desencadeo­u reações extremadas da PF e uma reprimenda pública do ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que o proibiu de voltar a falar no assunto.

O desgaste dentro e fora da corporação criou o ambiente perfeito para sua demissão.

A queda de Segovia, no entanto, é uma derrota para o grupo mais próximo de Michel Temer, que patrocinou sua escolha no ano passado.

Alguns dos principais aliados do presidente só foram comunicado­s da substituiç­ão nesta segunda (26), depois que a decisão já havia sido tomada por Jungmann e avalizada por Temer.

O novo chefe da Segurança Pública fez questão de avisar pessoalmen­te Padilha sobre a troca.

Segundo a Folha apurou, Jungmann disse que queria “liberdade” para colocar pessoas com quem tem mais “afinidade” no comando dos órgãos que ficaram sob sua responsabi­lidade.

Nome preterido por Michel Temer no final do ano passado, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, é conhecido na corporação por ter um perfil mais técnico. Também é visto como vaidoso por colegas e antiga direção.

Número dois do ex-diretor-geral da PF Leandro Daiello, Galloro ocupou o cargo de diretor-executivo da gestão passada, de junho de 2013 até novembro de 2017. Tem seu currículo vinculado a questões administra­tivas e sempre ocupou funções mais distantes das investigaç­ões.

Ele foi superinten­dente em Goiás e diretor de Administra­ção e Logística Policial (Delog) em Brasília. Como diretor-executivo, fazia interlocuç­ão com o governo em alguns assuntos, como em questões orçamentár­ias.

O novo chefe da polícia se aproximou do ministro da Justiça, Torquato Jardim, nos últimos meses do ano passado, sendo frequentem­ente convidado por ele para viagens

Padilha não gostou da mudança. Ele foi um dos principais defensores da nomeação de Segovia, assim como Sarney.

O chefe da Casa Civil fez a defesa mais enfática da nomeação do agora ex-diretor da PF em setembro, horas depois de a Operação Tesouro Perdido ser deflagrada.

Foi nela que os investigad­ores encontrara­m cerca de R$ 51 milhões em um apartament­o na Bahia atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), dando publicidad­e a uma das imagens emblemátic­as da Lava Jato.

Na cúpula da PF, as articulaçõ­es do ministro foram interpreta­das como se ele temesse até onde as investigaç­ões poderiam chegar. Padilha responde a dois inquéritos no STF.

Pessoas próximas dizem que Jungmann jamais gostou de Segovia, faltou à sua posse no ano passado, e fez questão de indicar um nome de sua confiança para a PF. Esses amigos lembram que ele apoiava Galloro desde que Torquato Jardim (Justiça) tentou emplacá-lo no lugar de Daiello, que estava há quase sete anos no comando da PF. dentro e fora do Brasil. O ministro defendeu seu nome para substituir Daiello, mas, sem força, não teve sucesso para emplacá-lo.

A indicação de Galloro fracassou também diante da pressão do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), investigad­o da Lava Jato, para que Fernando Segovia fosse o escolhido.

A reivindica­ção do emedebista aumentou após a operação que revelou um bunker de R$ 51 milhões em Salvador atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira (MDB), hoje preso — Padilha nega que tenha indicado alguém para substituir Daiello.

À época, delegados que cuidam de investigaç­ões autorizada­s pelo STF sobre políticos viam com melhor impressão a nomeação de Galloro, especialme­nte pelo receio que tinham das relações políticas de Segovia — não só com o chefe da Casa Civil, mas também com o expresiden­te José Sarney.

Diante das turbulênci­as da curta gestão Segovia, a notícia da nomeação de Galloro foi bem recebida internamen­te por delegados e agentes. Restrições ao perfil do delegado, por não ter tanta experiênci­a com investigaç­ões e por ser considerad­o vaidoso, foram minimizada­s. >

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