Novo chefe do órgão é visto como técnico
DE BRASÍLIA
O novo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, decidiu trocar o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, no mesmo dia em que tomou posse no Palácio do Planalto. A PF ficará sob a tutela do delegado Rogério Galloro, hoje Secretário Nacional de Justiça.
A mudança na cúpula da corporação foi antecipada pelo “Painel”, da Folha , e pegou aliados do governo de surpresa. Tratou-se de uma jogada calculada para, ao mesmo tempo, encerrar o desgaste provocado pela escolha de Segovia e dar força política a Jungmann.
Dono de perfil mais técnico, Galloro foi o número dois da PF na gestão de Leandro Daiello, o mais longevo diretor-geral do órgão, e antecessor de Segovia.
Daiello decidiu se aposentar em novembro do ano passado, abrindo a possibilidade de o presidente Michel Temer escolher seu próprio comandante da PF no momento em que a Operação Lava Jato avançava sobre o coração do Palácio do Planalto — logo após a delação de executivos da JBS.
Segovia foi alçado ao cargo pelo apoio que tinha entre políticos do MDB, como o expresidente José Sarney e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Galloro estava em uma lista tríplice avaliada pelo presidente, mas acabou ficando para trás diante da pressão dos emedebistas por Segovia.
Desde sua posse, porém, o agora ex-diretor da PF acumulou desgastes que o enfraqueceram não só junto à opinião pública, mas ao Planalto, diante do Judiciário e dentro da própria corporação. Ele ficou apenas 110 dias no cargo.
Em dezembro do ano passado, por exemplo, a Folha mostrou que, convidado para um prêmio da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Segovia sentou-se à mesa do ex-senador Clésio Andrade, que preside a entidade e é réu no chamado mensalão tucano, de Minas Gerais.
Ele também foi criticado por nomear delegados com forte conexão com políticos do MDB a postos estratégicos na polícia. A gota d’água, porém, foi a entrevista concedida à agência Reuters, na qual indicou que o inquérito que investiga Temer por suspeitas de irregularidades no porto de Santos (SP) deveria ser arquivado.
A declaração devolveu o caso ao centro do noticiário, desencadeou reações extremadas da PF e uma reprimenda pública do ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), que o proibiu de voltar a falar no assunto.
O desgaste dentro e fora da corporação criou o ambiente perfeito para sua demissão.
A queda de Segovia, no entanto, é uma derrota para o grupo mais próximo de Michel Temer, que patrocinou sua escolha no ano passado.
Alguns dos principais aliados do presidente só foram comunicados da substituição nesta segunda (26), depois que a decisão já havia sido tomada por Jungmann e avalizada por Temer.
O novo chefe da Segurança Pública fez questão de avisar pessoalmente Padilha sobre a troca.
Segundo a Folha apurou, Jungmann disse que queria “liberdade” para colocar pessoas com quem tem mais “afinidade” no comando dos órgãos que ficaram sob sua responsabilidade.
Nome preterido por Michel Temer no final do ano passado, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, é conhecido na corporação por ter um perfil mais técnico. Também é visto como vaidoso por colegas e antiga direção.
Número dois do ex-diretor-geral da PF Leandro Daiello, Galloro ocupou o cargo de diretor-executivo da gestão passada, de junho de 2013 até novembro de 2017. Tem seu currículo vinculado a questões administrativas e sempre ocupou funções mais distantes das investigações.
Ele foi superintendente em Goiás e diretor de Administração e Logística Policial (Delog) em Brasília. Como diretor-executivo, fazia interlocução com o governo em alguns assuntos, como em questões orçamentárias.
O novo chefe da polícia se aproximou do ministro da Justiça, Torquato Jardim, nos últimos meses do ano passado, sendo frequentemente convidado por ele para viagens
Padilha não gostou da mudança. Ele foi um dos principais defensores da nomeação de Segovia, assim como Sarney.
O chefe da Casa Civil fez a defesa mais enfática da nomeação do agora ex-diretor da PF em setembro, horas depois de a Operação Tesouro Perdido ser deflagrada.
Foi nela que os investigadores encontraram cerca de R$ 51 milhões em um apartamento na Bahia atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), dando publicidade a uma das imagens emblemáticas da Lava Jato.
Na cúpula da PF, as articulações do ministro foram interpretadas como se ele temesse até onde as investigações poderiam chegar. Padilha responde a dois inquéritos no STF.
Pessoas próximas dizem que Jungmann jamais gostou de Segovia, faltou à sua posse no ano passado, e fez questão de indicar um nome de sua confiança para a PF. Esses amigos lembram que ele apoiava Galloro desde que Torquato Jardim (Justiça) tentou emplacá-lo no lugar de Daiello, que estava há quase sete anos no comando da PF. dentro e fora do Brasil. O ministro defendeu seu nome para substituir Daiello, mas, sem força, não teve sucesso para emplacá-lo.
A indicação de Galloro fracassou também diante da pressão do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), investigado da Lava Jato, para que Fernando Segovia fosse o escolhido.
A reivindicação do emedebista aumentou após a operação que revelou um bunker de R$ 51 milhões em Salvador atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira (MDB), hoje preso — Padilha nega que tenha indicado alguém para substituir Daiello.
À época, delegados que cuidam de investigações autorizadas pelo STF sobre políticos viam com melhor impressão a nomeação de Galloro, especialmente pelo receio que tinham das relações políticas de Segovia — não só com o chefe da Casa Civil, mas também com o expresidente José Sarney.
Diante das turbulências da curta gestão Segovia, a notícia da nomeação de Galloro foi bem recebida internamente por delegados e agentes. Restrições ao perfil do delegado, por não ter tanta experiência com investigações e por ser considerado vaidoso, foram minimizadas. >