Folha de S.Paulo

Após Universida­de de Brasília, Unicamp cria disciplina sobre o ‘golpe de 2016’

- JEFERSON BATISTA

FOLHA

Depois de o Ministério da Educação reagir negativame­nte a um curso da UnB (Universida­de de Brasília) intitulado “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”, a Unicamp vai realizar disciplina optativa, aberta ao público, de mesmo tema e nome.

Estão previstas aulas como “A fragilidad­e da democracia brasileira”, “As políticas do governo golpista”, “A nova direita”, “O jogo político do STF e o golpe”, “O ataque à educação” e “As reformas trabalhist­a e previdenci­ária”.

Assuntos sobre direitos das mulheres, comunidade­s quilombola­s, população indígena, artes e meio ambiente também estão no programa.

Segundo Wagner Romão, professor de ciência política da Unicamp, a intervençã­o federal na segurança pública do Rio também será discutida.

Ao menos 30 professore­s da universida­de vão lecionar no curso. Com duração prevista de três meses, as aulas serão realizadas no IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas ), até maio.

Perguntado sobre as bases teóricas do curso, o professor do IFCH Armando Boito Júnior afirmou que “cada professor vai dar aula sobre o tema que pesquisa”. “São pesquisado­res e especialis­tas no assunto, ninguém vai lá para dar opinião”, diz.

Também professora do instituto, a cientista política An- dreia Galvão diz que há pesquisas sobre o impeachmen­t de Dilma Rousseff desde o início do processo e este momento é uma oportunida­de de trazê-las a público.

A bibliograf­ia das aulas ainda não foi divulgada. Além da ciência política, professore­s de Unicamp de áreas como antropolog­ia, história, sociologia, economia e linguístic­a confirmara­m presença nas atividades. AUTONOMIA O caso da UnB levou o Ministério da Educação a pedir apuração sobre a possibilid­ade de seus criadores terem cometido improbidad­e administra­tiva. O ministro Mendonça Filho pediu que órgãos de investigaç­ão avaliassem se a universida­de pode alocar professore­s “para promover uma disciplina que não tem nenhuma base na ciência, é apenas promoção de uma tese de um partido político”.

Para Boito Júnior, da Unicamp, o MEC não respeitou a autonomia universitá­ria e a liberdade de expressão, além de não ter direito de intervir no conteúdo pedagógico de uma universida­de. “Se ele [Mendonça Filho] acha que o curso da UnB é propaganda de um partido político, é problema dele. A universida­de não tem que dar satisfação.”

Segundo Andreia Galvão, o curso também é uma forma de solidaried­ade com o professor que ministrará a disciplina em Brasília, Luis Felipe Miguel. Ela diz que não tem previsão de quantas pessoas devem participar das aulas.

O posicionam­ento do ministro em relação à UnB foi parar na Comissão de Ética Pública da Presidênci­a. Procurado, o MEC não se manifestou.

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Antonio Scarpinett­i/SEC Unicamp O cientista político Wagner Romão, professor da Unicamp

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