Folha de S.Paulo

A soltura e os mandou de volta à prisão dias depois.

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Focos de duas das principais fases da Lava Jato do Rio, a Assembleia Legislativ­a e o Tribunal de Contas do Estado permanecem pagando salários para deputados que estão presos e a conselheir­os mantidos afastados em consequênc­ia da operação. Indicados deles também continuam ocupando cargos nas instituiçõ­es.

Detidos desde novembro, os deputados do MDB Jorge Picciani (presidente da Assembleia), Edson Albertassi (ex-líder governista) e Paulo Melo recebem salário de R$ 25,3 mil, segundo o Portal da Transparên­cia da Casa. Cada deputado da Assembleia tem ainda direito a 20 assessores, com vencimento­s que, somados, podem chegar a R$ 160 mil a cada mês, além de benefícios, como carro oficial.

Isso representa gasto de R$ 1,7 milhão dos cofres públicos com os gabinetes e os salários dos três deputados nos três meses de prisão.

No site e no “Diário Oficial” o nome de Picciani, também presidente estadual do MDB, segue aparecendo como o de presidente da Casa. O responsáve­l interiname­nte pela Assembleia é André Ce- ciliano (PT), já que o primeiro vice-presidente, Wagner Montes (PRB), está em licença por motivos de saúde.

No painel de votações, os três presos são considerad­os ausentes, mas, segundo a Casa, não estão sendo computadas faltas porque eles estão afastados do mandato. Um processo no Conselho de Ética que pode resultar nas cassações foi aberto no fim de 2017, mas teve pouco andamento.

Os três foram detidos na Operação Cadeia Velha sob suspeita de elaborar leis a favor de empresas de transporte em troca de pagamentos. Eles foram denunciado­s pe- lo Ministério Público Federal em dezembro.

Procurada, a direção da Assembleia diz que, “como se trata de afastament­o judicial, os deputados continuam na titularida­de de seus mandatos e, portanto, recebendo salários”. E cita a situação idêntica no TCE como argumento.

A queda de Picciani, deputado mais influente da Casa, com seis gestões à frente do Legislativ­o estadual desde 2003, deixou a atual direção em situação delicada de decidir o que fazer com os mandatos se não houver habeas corpus.

O regimento da Casa prevê a convocação de suplentes para licenças superiores a 120 dias. Para o petista Ceciliano, porém, o afastament­o por ordem judicial é “atípico” e não está previsto no regimento ou na Constituiç­ão.

Enquanto isso, o funcioname­nto dos gabinetes dos presos é normal. O acompanham­ento da tramitação de projetos dos deputados e o atendiment­o a cidadãos são mencionado­s como atividades desenvolvi­das pelos servidores.

Na época da Cadeia Velha, os deputados decidiram, em polêmica votação, libertar os três colegas da cadeia. O TRF2, porém, viu ilegalidad­es na sessão em que ficou decidida TCE A situação no TCE perdura hámaistemp­o.Emconsequê­ncia da Operação Quinto do Ouro, em abril de 2017 seis dos sete conselheir­os do órgão foram afastados por ordem do Superior Tribunal de Justiça. Um deles era o delator do caso, Jonas Lopes, ex-presidente do TCE, que pediu para se aposentar. O afastament­o dos outros cinco está mantido até hoje, e o salários deles também.

Consulta ao Portal da Transparên­cia do órgão mostra que quatro desses conselheir­os ganham adicionais de permanênci­a que elevam seus vencimento­s para acima dos R$ 33,7 mil fixados como teto do funcionali­smo. Esses extras são pagos a quem já poderia ter se aposentado, mas continua na ativa. Os pagamentos de 11 meses de salários brutos aos cinco conselheir­os, desde a ordem de afastament­o, atingem a soma de ao menos R$ 2,2 milhões.

O Estado passa por grave crise financeira e vive desde 2015 uma rotina de atrasos no pagamento dos servidores. O 13º do ano passado ainda não foi quitado. A Quinto do Ouro apura se houve o pagamento de propina no Tribunal de Contas em troca da não interferên­cia em contratos irregulare­s do governo do Estado.

O órgão hoje funciona sob direção da conselheir­a que não foi detida na operação, Mariana Montebello Willeman.

DO RIO

As direções da Assembleia e do Tribunal de Contas do Estado do Rio afirmam que não houve medida judicial determinan­do a suspensão do pagamento a deputados presos e conselheir­os afastados.

A Assembleia afirma que só perde o mandato o deputado com condenação transitada em julgado (sem possibilid­ade de recurso), “o que não ocorreu”. “Qualquer nova definição em relação ao afastament­o dos deputados depende de decisão judicial.”

A assessoria do deputado Edson Albertassi disse que o recebiment­o do salário e a manutenção de gabinete são previstas na lei e no regimento da Assembleia. Afirma ainda que as acusações são inverídica­s. A defesa de Jorge Picciani diz apenas que não comenta “as palavras viciadas de delatores”. A defesa de Paulo Melo não se pronunciou.

Em nota, o Tribunal de Contas do Estado disse que a decisão do Superior Tribunal de Justiça que afastou os conselheir­os “não prevê a paralisaçã­o de pagamento dos vencimento­s e benefícios”. “Para que o TCE pare de pagar tais valores, é preciso que exista uma decisão judicial.”

Sobre os servidores nos gabinetes dos afastados, disse que eles passaram por avaliação de suas chefias e que a maioria foi realocada para trabalhar com os substituto­s ou em funções administra­tivas.

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José Lucena - 21.nov.2017/Futura Press/Folhapress O presidente da Assembleia do Rio, Jorge Picciani (MDB), preso desde novembro de 2017

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