Itália incentiva denúncia e delação para combater corrupção política
Para porta-voz de agência, conscientização do público levou à redução da tolerância aos delitos
DO ENVIADO A NÁPOLES
A cidadania italiana de 1.118 brasileiros foi revogada, conforme anúncio em 9 de fevereiro, fazendo com que perdessem o direito de morar e de trabalhar em um dos países da União Europeia.
Segundo a prefeitura de Ospedaletto Lodigiano, no norte da Itália, as cidadanias tinham sido concedidas sem os brasileiros de fato residirem no povoado de 1.500 habitantes próximo a Milão. A residência é obrigatória para quem pede na Itália o reconhecimento da cidadania pelo critério de descendência direta, ou “iuri sanguinis”.
A acusação é de que os processos foram fraudados por um casal de brasileiros que cobrava até R$ 12 mil para auxiliar os interessados.
O casal pagava propina a funcionários públicos para atestar a cidadania de pessoas que não residiam na cidade, ou não residiam por tempo suficiente —não há consenso sobre o período mínimo. Um brasileiro foi sentenciado a três anos e meio de prisão, e sua parceira, a dois anos e meio.
A prefeitura divulgou uma conta de e-mail para responder a dúvidas e publicou um documento em sua página oficial com nome, sobrenome, data de nascimento e cidade de origem dos 1.118 brasileiros. As cidadanias revogadas foram processadas entre julho de 2015 e julho de 2017.
As pessoas procuradas pela Folha preferiram não ser entrevistadas enquanto recorrem à decisão. A prefeitura também não fez declarações.
Com as longas filas de espera nos consulados italianos no Brasil —e prazos de até 10 anos—, é comum que brasileiros decidam residir na Itália para acelerar o processo do reconhecimento da cidadania. Pessoalmente, é possível fazer a burocracia em questão de meses. O trâmite é legal e já ocorre há anos.
Não há uma estimativa oficial de quantos brasileiros têm a cidadania italiana. O número de italianos hoje residindo no Brasil, que inclui esses brasileiros, é de 400 mil pessoas. (DB)