Folha de S.Paulo

Prevenção da corrupção, em especial ajudando o setor público a fazer suas licitações e contratos de maneira correta.

- DIOGO BERCITO

ENVIADO ESPECIAL A NÁPOLES

Lembrada pela máfia e pela Operação Mãos Limpas dos anos 1990, a Itália avançou 18 posições no índice de percepção de corrupção nos últimos cinco anos. A melhora nessa área central às eleições de 4 de março é atribuída à aprovação de leis em 2012 e à criação da Agência Nacional Anticorrup­ção em 2014.

A Itália foi da 72ª posição à 54ª, enquanto o Brasil está em 96° entre 180 países. Mas o índice, publicado na semana passada pela Transparên­cia Internacio­nal, se baseia na opinião de especialis­tas sobre o setor público, e não na da população. Ainda há queixas, alimentand­o partidos como o 5 Estrelas, com discurso contrário à política tradiciona­l e favorito na votação.

Uma das novas armas da legislação italiana é o incentivo às denúncias feitas por servidores públicos. “A corrupção é muito difícil de ser descoberta porque nem o corrupto nem o corrompido têm interesse de torná-la pública”, diz à Folha Paolo Fantauzzi, porta-voz da Agência Nacional Anticorrup­ção.

“Essas leis são uma oportunida­de para os funcionári­os públicos que têm informaçõe­s sobre corrupção ou má administra­ção relatarem o que sabem. Protegemos essas pessoas de serem demitidas ou punidas publicamen­te, se isso for ligado às denúncias.”

Outra ferramenta é a delação premiada, como a utilizada no Brasil. “Esse sistema levou a grandes resultados no combate à máfia, porque removeu a sensação de que eles eram intocáveis”, diz. A medida foi expandida em 2015. Folha - A agência foi criada em 2014 e, segundo a Transparên­cia Internacio­nal, contribuiu para reduzir a percepção de corrupção. Qual é a estratégia?

Paolo Fantauzzi - A crença é de que os procedimen­tos corretos, garantindo a competição, reduzem o risco de corrupção. A agência atua na Um dos instrument­os da agência é o incentivo aos denunciant­es. Qual é a importânci­a deles no combate à corrupção?

A corrupção é muito difícil de ser descoberta porque nem o corrupto nem o corrompido têm interesse de torná-la pública. Dessa maneira, a lei é uma oportunida­de para funcionári­os públicos que têm informaçõe­s sobre corrupção ou má administra­ção relatarem o que sabem.

Protegemos essas pessoas de serem demitidas ou punidas publicamen­te, se isso for relacionad­o a suas denúncias. A lei permite o anonimato das denúncias feitas diretament­e à agência, que recebeu cerca de 200 delas desde o início do ano e 580 durante 2017. O índice mede a percepção, e não a corrupção em si. Qual é a diferença?

Não existem instrument­os científico­s para medir a corrupção, mas estamos trabalhand­o nisso em parceria com o instituto italiano de estatístic­as. Hoje é impossível dizer se a corrupção diminuiu. É claro que uma percepção de corrupção mais baixa é um sinal de uma confiança maior entre os italianos em suas instituiçõ­es, e isso é algo positivo. A Itália lida há bastante tempo com a corrupção. Há a sensação de que a corrupção já seja normal?

O fator cultural tem um papel importante quando falamos de corrupção. Você pode enviar corruptos à prisão, mas se a mentalidad­e não mudar, as pessoas que tomarem seu lugar podem fazer o mesmo.

Por isso é essencial haver um esforço para que os cidadãos tenham consciênci­a dos danos causados em seu dia a dia pela corrupção.

Por exemplo, com o desperdíci­o de dinheiro, com a fuga de cérebros e com a ausência de meritocrac­ia. Até os anos 1980 na Itália havia alguns, incluindo políticos, que diziam que a máfia não existia. Hoje ninguém diria isso.

O que mudou? Principalm­ente, a consciênci­a do público. Há debate no Brasil sobre métodos investigat­ivos como delações premiadas. O que se pensa na Itália?

Na Itália esse sistema levou a grandes resultados no combate à máfia, porque removeu a sensação de que eles eram intocáveis. A delação premiada foi expandida na Itália em 2015 para incluir também os julgamento­s de corrupção, permitindo mitigar de um terço a dois terços da sentença aos indiciados que colaborem com a Justiça.

 ?? Alessandro Bianchi - 21.fev.2018/Reuters ?? Homem vê cartazes de partidos políticos em Nápoles; leis e agência melhoram posição italiana em índice anticorrup­ção
Alessandro Bianchi - 21.fev.2018/Reuters Homem vê cartazes de partidos políticos em Nápoles; leis e agência melhoram posição italiana em índice anticorrup­ção
 ?? Ettore Ferrari /ANSA/Associated Press ?? Ex-premiê Matteo Renzi (à esq.), ministro Pier Carlo Padoan e Paolo Gentiloni em Roma
Ettore Ferrari /ANSA/Associated Press Ex-premiê Matteo Renzi (à esq.), ministro Pier Carlo Padoan e Paolo Gentiloni em Roma

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