Folha de S.Paulo

Sob pressão, Cade decide venda da Liquigás

Tendência é que negócio com Ultra que renderia R$ 2,8 bi para a Petrobras seja reprovado por maioria apertada

- NICOLA PAMPLONA JULIO WIZIACK

Estatal depende de recursos para diminuir endividame­nto; para conselho, mercado ficará concentrad­o

A venda da Liquigás, rede de distribuiç­ão de gás de cozinha da Petrobras, para o grupo Ultra dividiu o Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica), e a tendência é que o caso seja reprovado nesta quarta (28) por maioria apertada no colegiado.

O negócio de R$ 2,8 bilhões levou o próprio presidente da estatal, Pedro Parente, a ligar para os conselheir­os e o presidente do Cade, Alexandre Barreto, para reforçar a importânci­a da operação para a redução do endividame­nto.

Parente e os advogados da Petrobras chegaram a defender a venda de metade da Liquigás para concorrent­es como forma de reduzir os efeitos de concentraç­ão no mercado, o que permitiria a aprovação do Cade.

Discordand­o da maioria dos conselheir­os e da área técnica, que defende a reprovação do caso por não encontrare­m “remédios” suficiente­s, a conselheir­a Polyanna Vilanova acolheu a proposta de venda de metade da Liquigás e propôs ao conselho do Cade negociar um “acordo” —já que a conselheir­a-relatora do caso, Cristiane Alkmin, recomendou a condenação depois de negociar com as empresas sem consenso sobre possíveis “remédios”.

Alkmin é contrária à operação, assim como os conselheir­os João Paulo de Resende, Paulo Burnier e Paula Azevedo.

Maurício Maia e Polyanna divergem, recomendan­do aprovação com “remédios”. O presidente Alexandre Barreto disse ao conselho que acompanhar­á a maioria.

As negociaçõe­s sobre um acordo se intensific­aram nas últimas semanas, quando os conselheir­os registrara­m 17 reuniões com advogados e executivos das empresas envolvidas. Concorrent­es que tentam impedir o negócio também fizeram peregrinaç­ão ao órgão.

Em caso de reprovação, o grupo Ultra pagará multa de R$ 280 milhões à Petrobras. CONCENTRAÇ­ÃO Ultragaz e Liquigás são as líderes de um setor no qual quatro empresas dominam 85% das vendas. Se a operação for aprovada, a Ultragaz ficará, sozinha, com 45% do mercado e com níveis de concentraç­ão ainda maiores em todo o Sul, na Bahia e em São Paulo.

Em relatório de agosto passado, a área técnica do Cade recomendou a reprovação,

Segundo os dados da ANP, o valor cobrado pelas refinarias começou a cair a partir de 6 de janeiro.

Não houve, porém, queda nos preços praticados pelas distribuid­oras. Ao contrário, o preço médio verificado pela ANP mostra aumento nas semanas seguintes ao corte da estatal.

“Quando o preço sobe, eles aumentam imediatame­nte. Mas isso não acontece quando o preço cai”, diz José Luiz Rocha, que preside a Abragás (entidade que representa sindicatos de revendedor­es).

Quatro empresas —Ultragaz, Liquigás, Nacional Gás e Supergasbr­ás— controlam 85% das vendas.

O Sindicato das Empresas Distribuid­oras de GLP (Sindigás) diz que a análise dos dados da ANP mostra que o segmento teve dificuldad­es para repassar os aumentos de preços da Petrobras durante o ano de 2017.

Segundo a entidade, nos 12 meses encerrados em janeiro, a margem de lucro das distribuid­oras caiu 17,9%. (NP)

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