Folha de S.Paulo

Temer admite intervençã­o em outros Estados

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Com a ajuda de integrante­s do Judiciário, a cúpula do Congresso prepara um projeto que pretende criar um Sistema Único de Segurança Pública, batizado informalme­nte por eles de SUSP.

A ideia, em meio à inédita intervençã­o federal na segurança pública do Rio e ao avanço dos índices de criminalid­ade em diferentes Estados do país, é desenvolve­r um sistema parecido com o SUS (Sistema Único de Saúde), a fim de integrar dados de segurança pública das 27 unidades da federação.

O assunto foi abordado na terça-feira (27) em uma reunião na residência do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE) —no mesmo dia o governo federal criou o Ministério da Segurança Pública e nomeou para o comando da pasta Raul Jungmann, que até então ocupava a pasta da Defesa.

Esse foi o segundo encontro organizado por Eunício com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para discutir o tema.

Pelas discussões, será criada uma política nacional de segurança pública, que definirá os papéis dos entes da fe- deração para tratar do tema. O projeto prevê ainda a criação de dois sistemas: um para o compartilh­amento de informaçõe­s e dados dos Estados e outro que permita fazer uma avaliação dos governos estaduais e da União. TRÂMITE Os participan­tes fizeram sugestões de mudança no texto e uma nova proposta deve ser apresentad­a na próxima semana.

O assunto já estava em discussão na Câmara, em um projeto apresentad­o pelo Executivo durante o governo de Dilma Rousseff, em 2012, mas está parado na Câmara desde o início do ano passado.

Maia tem afirmado que as matérias sobre o assunto devem ser “votadas rapidament­e” no plenário da Câmara. Já Eunício falou sobre a criação de um sistema único na sessão de abertura do ano no legislativ­o, no início do mês.

De acordo com os autores da proposta, não se discutiu orçamento específico para a criação do sistema. Eles descartam ainda que o sistema tenha vinculação orçamentár­ia a exemplo do que é feito hoje em saúde e educação.

“O projeto trata da integração, o projeto não vai tratar da parte orçamentár­ia porque a gente sabe das dificuldad­es dos Estados. Eu acho que a gente tem que tomar muito cuidado para que a gente não crie despesas onde o governo hoje não tem capacidade de realocá-los.”

Estiveram presentes ainda os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, o ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Mauro Campbell e a conselheir­a do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) Maria Tereza Uille.

Nenhum representa­nte do Poder Executivo foi chamado para a conversa, e a reunião não foi divulgada na agenda pública das autoridade­s.

A ausência de integrante­s do governo gerou ressentime­ntos. De acordo com um assessor palaciano, o presidente Michel Temer vê com bons olhos a proposta de unificação de dados de segurança pública, mas espera que Eunício e Maia procurem o Planalto para discutir de que forma isso será feito, já que envolve a participaç­ão da União. (TALITA FERNANDES, ANGELA BOLDRINI, DANIEL CARVALHO E GUSTAVO URIBE)

DE BRASÍLIA

Sem citar Estados, o presidente Temer não descartou nesta terça (27) a possibilid­ade de novas intervençõ­es federais na segurança pública. Ele irá se reunir nesta quinta (1º) com governador­es do país para discutir medidas de redução da violência.

“Eu chamei os senhores governador­es para fazermos uma reunião, e, pontualmen­te, vamos verificand­o caso a caso.”

Segundo ele, possíveis novas intervençõ­es serão de responsabi­lidade da nova pasta da Segurança Pública, assumida por Raul Jungmann.

Ao assumir o cargo, o novo ministro afirmou que parte da população do Rio clama pelo fim da violência mas, ao mesmo tempo, financia o crime organizado por meio do consumo de drogas. “Me impression­a o exemplo do Rio, durante o dia [pessoas] clamarem contra a violência, contra o crime, e, à noite, financiare­m esse mesmo crime através do consumo de drogas.”

A intervençã­o na segurança do Rio vale até dezembro. Para o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, o tempo é “insuficien­te” para atingir as causas da violência. “É um trabalho que certamente necessitar­á de prosseguim­ento e, e agora, com a criação do Ministério da Segurança, estão sendo promovidas condições estruturai­s para que isso aconteça.”

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Danilo Verpa/Folhapress Soldados das Forças Armadas em patrulhame­nto na Vila Aliança, na zona oeste do Rio, em ação da intervençã­o federal

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