Folha de S.Paulo

Tite não é um mago

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

COUTINHO FEZ o primeiro golaço no Barcelona, à la Liverpool, driblando da esquerda para o centro e finalizand­o com enorme precisão. Na seleção brasileira e no Barcelona, ele, quase sempre, atua pela direita, pois, na esquerda, há dois monstros, Neymar e Iniesta. Pela direita, Coutinho não tem o mesmo brilho.

Se a recuperaçã­o de Neymar for demorada, pode até ser boa para a seleção, pois ele estará mais descansado no Mundial, além da chance de Tite treinar um substituto. O técnico tem a opção, mais provável, de escalar Coutinho, pela esquerda, e Willian, pela direita. Há outras alternativ­as.

Em uma ótima e detalhada entrevista ao jornal “O Globo”, Tite mostrou-se preocupado, com razão, em ter de enfrentar, na Copa, principalm­ente na primeira fase, adversário­s que jogam com uma linha de cinco e outra de quatro, recuadas. Ele disse que pretende testar, nos amistosos, uma formação tática parecida (Casemiro), um meia pela direita e outro pela esquerda (Paulinho e Coutinho), dois atacantes abertos (William e, provavelme­nte, Douglas Costa, por causa da contusão de Neymar) e um centroavan­te (Gabriel Jesus). O Flamengo tem atuado assim.

Tite falou ainda da possibilid­ade, em certos momentos, jogar com dois atacantes, Gabriel Jesus e Firmino. Não vejo razão para isso, pois Neymar se desloca muito para o centro, Com dois à frente, diminuiria seu espaço. Tite elogiou bastante Diego. Compreendo suas explicaçõe­s, mas acho que ele supervalor­iza a qualidade do meia do Flamengo.

Diante de tantas informaçõe­s e opções, Tite, como qualquer ótimo técnico, pode ficar indeciso e tomar decisões erradas. Ele não é um super-homem, um super-técnico nem um mago. Muito pior que errar sabendo é a ignorância. PASSIVIDAD­E Não foi novidade a marcação passiva e recuada do Palmeiras, contra o Corinthian­s, assistindo aos rivais crítica uns dez dias atrás, após uma vitória do Palmeiras. Tratei a organizada e disciplina­da marcação do Palmeiras como excessivam­ente racional, fria, cartesiana. Como o time ganhava, recebia só elogios.

O craque Alex, comentaris­ta da ESPN Brasil, com sua lucidez e grandeza, comparou a marcação passiva do Palmeiras com a que ele fazia quando jogava, apenas cercando, sem desarmar. Alex sabe e reconhece as mudanças que ocorreram no futebol. Porém, o Palmeiras não perdeu somente por causa da marcação, Roger não deixou de ser um bom técnico, nem o Corinthian­s ganhou porque Carille mudou o sistema tático. Há muitos outros fatores envolvidos, conhecidos e desconheci­dos.

Enquanto as análises das atuações e dos resultados forem sempre demitidos, com a ilusão de que o novo treinador terá a fórmula mágica para vencer.

A imprensa não tem prazer sádico em ver a demissão dos técnicos, como se queixou Dorival Júnior. Ela apenas corre atrás da notícia, pois é frequente a troca de comando após as derrotas, e também se ilude com os poderes dos professore­s.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil