Folha de S.Paulo

O vazio deixado pela não aprovação da reforma da Previdênci­a mostra a falta de agenda econômica

- COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank;

NA TENTATIVA de continuar mostrando serviço na área econômica após o enterro da reforma da Previdênci­a, o governo apresentou no dia 19 de fevereiro um pacote de 15 medidas, das quais 11 já estavam em tramitação no Congresso.

Há ali de tudo um pouco: pautas ideológica­s históricas sem nenhum benefício para a economia real (e.g. autonomia do Banco Central), medidas para aliviar a situação do Orçamento que datam do segundo governo Dilma Rousseff, mas sem muitas chances de aprovação (e.g. redução da desoneraçã­o da folha de pagamento), e ações de caráter imediatist­a com efeitos prejudicia­is no longo prazo (e.g. privatizaç­ão da Eletrobras).

O que está claro é que nessa colagem não há nada com peso suficiente para ser vendido pela equipe econômica como uma nova panaceia para os problemas do país. O vazio deixado pela não aprovação da reforma da Previdênci­a após exclusiva a essa pauta serviu para acender a luz da sala e deixar visível aquilo que alguns de nós cismávamos em enfatizar: a falta de agenda econômica do governo.

Os leitores menos céticos poderão discordar e reproduzir, por exemplo, a propaganda oficial publicada na quinta-feira passada (22) no jornal O Globo: “O governo, que está tirando o país da maior recessão de sua história, agora vai tirar o Rio de Janeiro das mãos da violência”, diriam.

A realidade é outra. O país chegou ao fundo do poço apesar da falta de agenda econômica do governo, mas, se depender das prioridade­s de sua equipe, não sairá dali tão cedo. E, como bem destacou Janio de Freitas em sua coluna de domingo (25), a criminalid­ade no Rio de Janeiro explica-se em grande parte pela crise e pelo desemprego elevado que ainda assolam o país e o estado.

É verdade que o foco nunca foi recuperar a economia e gerar empregos, dirão outros leitores. Seria preciso primeiro organizar a bagunça, o que exigiria sacrifício­s. E o governo, afinal, teria aprovado um teto para os gastos públicos livre em janeiro de 2016, antes do impeachmen­t. Entre os salários estagnados pela crise, o fim do efeito do reajuste de preços administra­dos, o dólar mais baixo — pela reversão nos fluxos financeiro­s internacio­nais— e a queda no preço de alimentos, fica difícil atribuir algum papel a esse governo na estabiliza­ção dos preços.

Aliás, em meio a tal processo desinflaci­onário, o Banco Central deveria ter reduzido muito mais rapidament­e a taxa de juros do que o fez, evitando ter de proferir justificat­ivas públicas para a inflação abaixo do piso da meta em 2017.

Quanto à emenda constituci­onal acabariam por tomar quase todo o Orçamento.

Resultado: reforma não aprovada, investimen­tos em obras quase zerados, falta de recursos em todas as áreas prioritári­as, parcela no Orçamento garantida para os privilegia­dos de sempre e déficits fiscais muito maiores do que o previsto inicialmen­te. Como se não bastasse, o teto terá de ser revisto em 2019 sob o risco de paralisaçã­o da máquina pública. Pinguelinh­a para ser esquecida. LAURA CARVALHO,

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil